Clóvis Bulcão

Eu quero uma casa no campo

14 / março / 2016

Vargas comary

Getúlio Vargas na Granja Comary


Um tema que tem monopolizado a cena política e a mídia, entre outros, são as propriedades de veraneio de ex-presidentes, com suas intermináveis reformas. Esse é um assunto pouco explorado pelos historiadores, mas é possível contar a História do Brasil a partir do estudo de casas, sítios, fazendas e outros patrimônios de nossos dirigentes.

Lembro que, em 1979, o general Ernesto Geisel, que presidiu o país entre 1974 e 1979, foi morar em Teresópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro. Nessa época eu frequentava a cidade e me hospedava em uma casa vizinha à dele. Um belo dia, pouco antes da chegada do novo – e ilustre – morador, tivemos uma surpresa boa: a rua começava a ser asfaltada.

O mesmo fenômeno, ou seja, o investimento do dinheiro público para favorecer o bem-estar de políticos, aconteceu com seu sucessor (não custa lembrar que todo tipo de benfeitoria, como asfaltamento, colocação de antenas de telefonia, saneamento etc., agregam valor aos imóveis locais). O general João Baptista Figueiredo (1979-1985) era proprietário de um sítio em Nogueira, também na Região Serrana. Figueiredo e a esposa, antes da posse, reformaram o sítio. O casal, que convivia em chalés separados na propriedade, inspecionava pessoalmente as obras da reforma.

Já Getúlio Vargas, bem mais modesto, nunca foi dono de qualquer propriedade secundária. Enquanto morou no Rio de Janeiro, especialmente durante sua primeira passagem pela Presidência (de 1930 e 1945), ia sempre ao palácio Rio Negro, residência oficial de verão do governo brasileiro, em Petrópolis, também na Região Serrana. Apesar de ser um frequentador assíduo do palácio, Vargas usaria muito mais o dinheiro do erário para ajudar o desenvolvimento de Teresópolis, conforme conto no livro Os Guinle. O mais curioso dessa história tem a ver com outra casa de campo na mesma localidade.

Na década de 1930, o milionário Carlos Guinle adquiriu muitas terras em Teresópolis, onde construiu sua sofisticada Granja Comary. Sempre que conseguia, tirava Getúlio de Petrópolis e o levava para lá. Em seu diário pessoal, Vargas fez alguns registros sobre suas visitas à granja, que se tornaria mais tarde sede de treinos da Seleção brasileira. A ligação entre as duas cidades era feita por um caminho de terra, até que Getúlio fez a gentileza de mandar construir a estrada Petrópolis-Teresópolis, inaugurada em 1937. A obra beneficiaria de forma inquestionável o município e, em particular, os negócios de Carlos Guinle.

Comentários

Uma resposta para “Eu quero uma casa no campo

  1. Gostei muito das histórias da familia. Bulcao

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