Maurício Gomyde

Amy

2 / março / 2016

Após a imersão no universo do cinema para escrever Surpreendente!, dei uma diminuída boa na quantidade de cinema que eu vinha tomando, bebendo e cheirando para me inspirar. Voltei ao normal, fiquei limpo, back to the books. Como bem disse Stephen King: para o escritor, o importante é o livro. Menos TV, menos internet, menos outras mídias, muito mais livros. A Netflix é minha maior ladra de tempo, e juro pela minha alma que não vou assistir a mais nenhuma série enquanto estiver escrevendo um livro. A última levou quase sessenta episódios. Sessenta horas, vezes quatrocentas palavras por hora, isso dá quase meio livro! E o tema da série não tinha nada a ver com nada — por que viciei foi um mistério.

Nessa onda, não consegui assistir a quase nenhum dos indicados ao Oscar 2016. Para não dizer que fui absolutamente ausente, dos que estavam no páreo eu tinha assistido a Divertida mente, What Happened, Miss Simone? e Amy — três filmes: ganhei de você, Glória Pires! De tal forma que demorei a entender a histeria pela importante questão que tomou conta das redes sociais semana passada: “Leonardo DiCaprio vai ganhar ou não?” Não tenho nada contra o Leo DiCaprio. Muito pelo contrário. Acho que ele deveria ter ganhado desde o Diamante de sangue. Passei a gostar dele ainda mais após assistir, no dia seguinte, ao breve discurso que proferiu com a estatueta finalmente em mãos — palmas efusivas. Para finalizar com o Leo, lerei primeiro o livro que inspirou o filme (O regresso, de Michael Punke) e depois partirei para a tela.

Estou aqui, no entanto, não para falar da justiça ou injustiça sobre o melhor ator, e sim sobre a felicidade pela vitória do já premiadíssimo e único filme para o qual eu estava torcendo: o documentário Amy. Quando conheci Amy Winehouse, a reação foi algo do tipo “pu**, ca*****, que voz é essa?”. O primeiro disco, Frank, saiu quando ela tinha recém-completado vinte anos. A voz de uma senhora gorda, negra e de bochechas rechonchudas não podia caber naquele fiapo de menina! Era como passar um camelo pelo buraco de uma agulha. Alguma coisa estava errada. Todo aquele jazz não era coisa de criança. Como ela se atrevia? Bom, o fato é que era a mais pura verdade e nem o fato de ter curtíssima discografia foi capaz de apagar seu imenso brilho como cantora. Tony Bennet, um de seus ídolos, comparou-a a Ella Fitzgerald e Billie Holiday.

O documentário é recheado de imagens caseiras, feitas com celulares e câmeras da própria cantora, das amigas, dos produtores, dos namorados. É possível sentir nas canções a mistura explosiva entre a inquietude artística de uma jovem cheia de opiniões fortes, compositora de mão cheia, e os inúmeros problemas com bebida, drogas pesadas, depressão e bulimia. Cenas lamentáveis de alguém que não conseguiu lidar com o estrondoso sucesso mundial tão cedo. Tristes imagens de uma jovem se autodestruindo. E o trecho mais perturbador do filme: o show em Belgrado, em que ela, completamente chapada, não consegue cantar diante da multidão. No fim das contas, previsível, não aguentou. Foi ser mais um membro do triste Clube dos 27, junto de Hendrix, Brian Jones, Janis Joplin, Kurt Cobain, Jim Morrison, Robert Johnson e outros.

Nas palavras do pianista Sam Beste, com quem ela tocou durante toda a carreira: “A música, para Amy, era como uma pessoa de quem ela precisava e por quem ela daria a vida.” Em dias de “Tá tranquilo, tá favorável”, recomendo fortemente a discografia da menina. De volta ao luto. É uma canção melhor do que a outra. E, ainda que com final triste e conhecido, o Oscar foi merecidíssimo.

Comentários

7 Respostas para “Amy

  1. Triste a história da moça. Maurício valeu a dica. Vou procurar.

  2. A Amy cantava MUITO!
    Tá q eu só soube q ela existia qndo rolou a comoção da morte dela, mas beleza hahahah

  3. Demorei a conhecer a Amy Winehouse mas com o tempo fui me apaixonando por ela. Assisti o documentario na netflix e é muito bom e muito triste. Deu pena de ver o tanto que ela se acabou pelas drogas. O filme é bom mesmo.

  4. Excelente texto, para não fugir a regra. Vou seguir o conselho e assistir. Super concordo com a sensação de “essa voz é mesmo dela?”, também passei por isso ao descobrir essa cantora com esses aplicativos que nos diz qual música está tocando.

  5. Excelente texto, para não fugir a regra. Vou seguir o conselho e assistir. Super concordo com a sensação de “essa voz é mesmo dela?”, também passei por isso ao descobrir essa cantora com esses aplicativos que nos diz qual música está tocando. Obrigada!

  6. Assisti o documentario da Nina Simone, mas não o de Amy. Vou corrigir isso já, já.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *