Por Danielle Machado*
(Foto por Jay L. Clendenin/Los Angeles Times)
Quem é J.J. Abrams? O cara de Lost, ué. Quer dizer, agora ele é o cara de Star Wars. Lá nos anos 1990, quando a gente via seriado legendado e fora de ordem na TV a cabo, para mim ele era o cara de Felicity.
É. Porque bem antes de jogar o pessoal todo numa ilha esquisita e plantar a semente da dependência em zilhões de espectadores que acompanharam 121 episódios para ver (ou não) no que aquela maluquice ia dar — e com isso ganhar um Emmy já no episódio piloto —, ele cocriou, dirigiu, roteirizou e produziu, não ao mesmo tempo, a singela saga da mocinha que sai de casa para uma universidade em Nova York atrás de um interesse amoroso e vive altas deprês e aventuras. Os episódios sempre começavam com a garota Felicity em seu quarto falando da vida para um gravador. Acho que aí já estava o toque de metalinguagem do moço, a história dentro da história (o que me remete ao S. dentro de O Navio de Teseu, ou vice-versa, se é que cabe dizer assim).
Felicity (1998 – 2002) foi a primeira incursão de J.J. na TV, mas no cinema ele começou bem antes. Com 16 anos escreveu músicas para a trilha de um filme, e seu primeiro crédito como roteirista foi numa comédia estrelada por James Belushi, Milionário num Instante (1990), que algumas pessoas, como eu, devem ter visto na Sessão da Tarde.
A farra nas telonas começa a esquentar de verdade um pouco depois: Armagedon (1998), Missão Impossível (2006), Cloverfield (2008), Star Trek (2009), Super 8 (2011)… Eu, que sou menina em busca de heroínas, já voltei para a TV, deixei Felicity para lá assim que a moça cortou o cabelo (não me julguem, a audiência caiu no mundo todo) e me agarrei com a Jennifer Garner (bem antes do Ben Affleck) em Alias (2001- 2006), que J.J. novamente cocriou, dirigiu, roteirizou e produziu, plus: deu de presente para Jenny a bicicleta rosa com a qual ela rodava pelos sets. Inclusive, foi Alias que abriu as portas para J.J. entrar na franquia Missão Impossível. O dono da bola, Tom Cruise, também se identificava com heroínas badass e assistia à série.
Muito cinema, muita TV, uma composição para trilha sonora aqui, uma abertura de seriado ali, mais Emmy, mais Globos de Ouro, e então saltamos para Star Wars, um divisor de águas nessa história toda. Abraçar essa franquia, na Disney, com George Lucas torcendo o nariz… não tem bênção de Spielberg que te proteja. J.J. já afirmou categoricamente que nada foi disneyficado, Lucas alfinetou que o novo filme está com muita conversinha e pouca nave espacial. Agora nos resta aguardar a estreia para conferir.
Enquanto isso, nada de ir para a Netflix ver mais coisas do J.J.: se você quer conhecer a verdadeira essência dele, leia o S.. Estão lá o mistério insondável de Lost, os dilemas de Felicity, o suspense de Alias, um toque de Fringe, uma pitada de Person of Interest — várias nuances misturadas num incrível quebra-cabeça literário que vai mudar o jeito que você vê um livro. Abra com cuidado, e se perca em S. com J.J. Abrams.
Danielle Machado é editora. Gosta de cinema, TV, livros, internet e quaisquer outros entretenimentos que se possa desfrutar sentado no sofá, sem gastar energia. Agora mesmo está exausta.
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