Clube de Leitura

Clube de leitura: O leitor do trem das 6h27

19 / novembro / 2015

Por Bruno Leite*

Como os livros mudaram a sua vida? Qual o impacto da leitura no seu cotidiano? Para um apaixonado por livros, provavelmente essas são as perguntas mais difíceis de se responder. Às vezes nem nos damos conta, mas a literatura tem um poder restaurador, é capaz de dar cores à nossa vida e despertar sensações que talvez nunca tivéssemos experimentado se não fosse por ela. A paixão pela leitura nos torna pessoas potencialmente mais sociáveis, simpáticas e humanas. E é sempre muito difícil medir o impacto desse exercício cotidiano em nossas vidas — na verdade, é praticamente impossível. O clube de leitura de dezembro vai abordar exatamente isso: a paixão que nutrimos pelos livros e o afeto que um personagem específico sente por eles. Vocês precisam conhecer Guylain Vignolles, protagonista de O leitor do trem das 6h27.

Guylain é um homem tímido, pacato, um pouco sonhador, mas que, acima de tudo, deseja passar despercebido — ele já sofreu demais por causa dos trocadilhos feitos com seu nome ao longo da vida.

14

Os incompreendidos, François Truffaut (1959)

Por isso, Guylain só quer ser mais um na multidão, passar incólume, e aparentemente não tem vocação para ser o centro das atenções. Mas parece não haver mal nisso.

1
A chinesa, Jean-Luc Godard (1967)

Operário de uma usina que destrói encalhe de livros, Guylain vive imerso em uma rotina extremamente mecânica e ordenada. Uma de suas poucas diversões é ler todos os dias, em alto e bom som, no trem a caminho do trabalho, trechos das páginas que salvou da destruição no dia anterior. O conteúdo nem sempre é animador: são fragmentos de livros que podem conter qualquer coisa, como receitas, clássicos da literatura, romances eróticos, artigos de botânica…

2
Zazie no metrô, Louis Malle (1960)

Mas que trabalho é esse? Bem, Guylain opera uma máquina que devora livros, picotando-os página por página, para serem reciclados. E o novo papel se transforma em novos livros.

3

O demônio das onze horas, de Jean-Luc Godard (1965)

Para operar a máquina, é preciso não apenas de uma licença, mas também conhecer o temperamento do gigantesco equipamento, entender sua fome e sua vontade incontrolável por mais e mais papel — e, eventualmente, também por ratos.

12

Le Jeu de la mort, de Robert Clouse (1978)

O trabalho de Guylain é desestimulante, pois é muito ruim lidar com pessoas que não apenas não se importam com nada, como desejam o tempo inteiro o seu infortúnio — Félix Kowalski, seu chefe, é um glutão que só pensa em toneladas e produtividade, e Brunner é um sujeito tão malicioso quanto ambicioso. Os dois parecem querer a cabeça de Guylain.

4

Delicatessen, Marc Caro e Jean-Pierre Jeunet (1991)

Ele sempre se sente deprimido quando para por breves instantes e observa a papa formada pelos papéis mastigados pela máquina, todas aquelas histórias desperdiçadas, os livros vitimados, um verdadeiro mar de possibilidades perdidas.

5

Fahrenheit 451, François Truffaut (1966)

Contudo, nesse ambiente desolador, há quem leia e viva pela literatura: Yvon é literalmente um guardião que protege não só a usina, mas também, com muita devoção, os clássicos do teatro francês e os versos alexandrinos.

6

Os sonhadores, Bernardo Bertolucci (2003)

Uma das piores partes do trabalho de Guylain é se esgueirar para dentro da máquina, limpar suas engrenagens, livrar dos martelos aniquiladores os fragmentos de livros que teimam em viver, além de tentar reunir tudo o que sobrou das finadas publicações.

8

O fabuloso destino de Amélie Poulain, Jean-Pierre Jeunet (2002)

Seria lastimável se alguém sofresse um grave acidente e tivesse uma parte do corpo decepada, obrigando-o a viver numa cadeira de rodas, não é mesmo? Mas a máquina é implacável.

9

Intocáveis, de Olivier Nakache e Éric Toledano (2011)

Talvez esteja na hora de nosso pobre Guylain sair um pouco da mesmice e se permitir viver novas emoções, experimentar o que o mundo tem a oferecer. Imagine se ele começasse a ler para outras pessoas…

13

Minhas tardes com Margueritte, de Jean Becker (2010)

E se ele encontrasse algo por acaso? Alguma coisa que lhe rendesse novas histórias? Será que o objeto foi deixado ali de propósito para ele? Quem será o autor desses textos?

10

O pianista, de Roman Polanski (2002)

Essa pessoa seria capaz de mudar a vida medíocre de Guylain? Quem sabe não teria sido enviada pelo destino para lhe encher de cor, ânimo e… vivacidade?

11

A datilógrafa, de Régis Roinsard (2012)

No dia 10/12 discutiremos esses e muitos outros aspectos do romance de estreia de Jean-Paul Didierlaurent. O último clube de leitura de 2015 acontece no auditório da Livraria Cultura do Shopping Bourbon. A inscrição pode ser feita pelo e-mail renato.costa@livrariacultura.com.br, enviando nome completo, CPF e contato. Se não puder comparecer, por favor, deixe sua opinião aqui nos comentários.

Foto_O leitor_1

Leia um trecho de O leitor do trem das 6h57

 

*Bruno Leite, 26 anos, é estudante de Letras, trabalha há 8 anos no mercado editorial e é colaborador no blog O Espanador.

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Comentários

3 Respostas para “Clube de leitura: O leitor do trem das 6h27

  1. Além de me deixar com uma vontade imensa de ler o livro, atiça ainda a vontade de ver e rever esses filmes lindos! Você é incrível, Bruno! Adoro seus textos!

  2. O livro é muito bom! Acabei de concluir a leitura. Tive vontade de desistir no começo, devido a algumas cenas precisamente descritas pelo autor. Porém, acreditei no potencial de Guylain e prossegui. Ele não me decepcionou. Como na vida, valeu a pena virar a página e confiar no futuro. Recomendo!

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