Leticia Wierzchowski

Chegadas e partidas

13 / novembro / 2015

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Bailar en la cueva, disco de Jorge Drexler. “Todo cae” é a faixa citada neste textinho.

A vida é cheia de partidas, e cada uma delas é um fim e também um começo. Tenho pensado muito nisso a propósito de minha própria história. Não estou falando de mortes físicas, mas da alegoria da morte presente em várias instâncias do cotidiano.

Lembro com euforia alguns começos fundamentais na minha vida — o grande amor, sonhos, o primeiro livro —; lembro detalhes, riscos, ansiedades, esperanças… Algumas dessas lembranças hoje doem em mim. Nem todas chegaram a termo como eu imaginava, mas, olhando para trás, acho que não existe um fim realmente bom, a não ser um recomeço. Quando um filho, já crescido, sai da casa dos pais, por exemplo, reside aí uma dor, uma despedida. Mas mora nisso também uma alegria, pois a partida é um desdobramento, é uma conquista, é a vida seguindo seu inevitável caminho.

A morte está dentro de todas as coisas e faz parte do caminho da vida, já que todos os começos têm seu fim. Porém, é muito difícil dar adeus àquilo que amamos: filho, amor, casa, emprego ou projeto de vida. Quando o final chega, sofremos tanto! Diz a música do genial cantautor uruguaio Jorge Drexler: “Cada corpo, por mais engenhoso, viaja ao encontro do seu repouso.” Assim é. Mas creio que precisamos esquecer isso todos os dias, porque viver com a perspectiva do término é impossível. Preferimos enxotá-la para o breu das coisas não pensadas até a hora em que esse encontro for inadiável. E, a cada despedida, seguimos adiante com mais uma dor; um pouco mais forte, talvez; um pouco mais triste também — afinal, saber lidar com a tristeza é uma força poderosa e bastante menosprezada nos dias atuais.

Algumas coisas terminam em si mesmas, dando espaço para outras, completamente novas, nascerem. Coisas, pessoas e eventos queridos apenas se desdobram, transformam-se em outros, como tudo se transforma na sua caminhada para sempre infindável.

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