Clóvis Bulcão

O resgate de Cândido Gaffrée

19 / outubro / 2015

Candido Gaffrée coluna

Candido Gaffrée

Estive na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul, por duas vezes. Em ambas senti que a memória local despreza um de seus filhos mais ilustres, Cândido Gaffrée. Figura central na saga da família Guinle, Cândido foi um dos maiores empreendedores do Brasil no último quartel do século XIX, como sócio de Eduardo Palassim Guinle. Nascido em 1845 e dotado de um extraordinário tino comercial, preferiu trocar Bagé pelo Rio de Janeiro. Em um curto espaço de tempo, entre 1870 e 1888, ele construiu rodovias no Nordeste e se tornou proprietário da maior fazenda de café de Botucatu, no interior de São Paulo, até ganhar, junto com Eduardo Palassim, a concessão para construir o porto de Santos.

Em minha primeira passagem por Bagé, ainda estava na fase de pesquisa para escrever Os Guinle. Fui muito bem recebido pela família Gaffrée e consegui relevantes informações. Agora, acabo de participar da Feira do Livro da cidade. Tive a chance de conversar com muitas pessoas e defender a tese de que Bagé deveria se reconciliar com a memória de Cândido. Falei sobre como, em minha opinião, a família Gaffrée se transformou em Guinle, já que Cândido teria sido pai de alguns dos filhos da esposa de seu sócio, Guilhermina Guinle, herdando o sobrenome dela. E relembrei que após a morte de Cândido, em 1920, no Rio de Janeiro, a Santa Casa local foi beneficiada por vultoso montante de dinheiro.

Acho que a pregação surtiu algum efeito. No dia seguinte à minha exposição na Feira do Livro, recebi uma mensagem eletrônica da doutora Elizabeth Macedo de Fagundes, médica da Santa Casa. O assunto era a memória de Gaffrée. Eu não a conhecia, o que mostra que minha “tese” obteve certa repercussão. E as informações enviadas por ela só comprovaram quão injusto é o descaso para com Cândido Gaffrée. Segundo a doutora, existe um registro no diário das freiras da Casa sobre uma doação de grande soma de dinheiro por parte de “alguém” do Rio de Janeiro, em 1920, para melhorias no hospital. Exatamente o ano de sua morte.

A outra informação é bastante inesperada: na Santa Casa existe uma imagem de Cândido Gaffrée, “porém, a identificação do quadro está no nome do dr. Thomaz Nabuco de Gouvea, médico carioca que muito auxiliou a Santa Casa”, segundo a doutora. Ainda de acordo com ela, a moldura da imagem foi trocada em 1985, ou seja, nos últimos 30 anos Cândido Gaffrée foi definitivamente banido da memória da instituição que ajudou a manter.

Fico feliz de ter ajudado minimamente no resgate da imagem de Cândido.  E confesso que amei o carinho da gente de Bagé. Aproveito para lembrar algo que me foi dito por dona Alice, sobrinha-neta de Cândido e matriarca da família, ao fim da minha participação na Feira do Livro: “Guinle bonito é Gaffrée.”

Comentários

4 Respostas para “O resgate de Cândido Gaffrée

  1. Acompanhei tua explanação resumida sobre a saga , digamos assim , de Cândido Gaffrée… foi uma explicação didática, acessivel, interessante por demais e conseguiu monopolizar o público presente ao evento, que foi a Feira do Livro , em BAGÉ. Parabéns pelo teu talento e empenho e, especialmente, pela pessoa que és: inteligente, sensivel, acessivel e preocupado com a memória histórica.um abração desta nova amiga.

  2. Bom dia, também sou da família Gafrée. Minha Bisavó materna se Chamava Marcelina Gafrée. Minha família por materna é de origem gaúcha.

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