Clóvis Bulcão

Celebridades e história

4 / setembro / 2015

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Jorginho Guinle (de copo na mão), em uma recepção em sua casa, entre Ethel Mernan, Oswaldo Aranha e Anne Miller. CPDOC/ FGV

Nos dias de hoje, todo mundo sabe dizer quem é e quem não é celebridade, a partir de um senso comum que confere a determinada pessoa um status particular. Nesse início de milênio, existem muito mais caminhos para se atingir a fama do que no fim do século XX. Outro dia, um aluno da PUC-Rio me disse que é uma subcelebridade no meio dos jogadores de Lol, um jogo eletrônico popular entre os jovens. Eu nem sabia que existia o tal jogo e desconhecia a categoria “subcelebridade”.

Será que nos livros didáticos de história do século XXI essas nuanças típicas do nosso tempo serão registradas? Ou seja, será que se distinguirá quem foi famoso realmente de quem foi celebridade ou apenas subcelebridade? Tenho total convicção de que não. Esses detalhes de uma dada época costumam ser mais bem captados pelas biografias e pelas obras literárias.

Após passar cinco anos estudando a trajetória da família Guinle, cheguei à conclusão de que é possível fazer um livro sobre a construção da fama ao longo da história. No início do século XX, o mundo ainda engatinhava no campo do audiovisual — o cinema era mudo e as fotografias não eram de acesso tão universal quanto agora. Então, como alguém fora do meio artístico ficava célebre? Penso que o caminho era o oposto ao da atualidade.

Os Guinle, por exemplo, ficaram famosos justamente por esconder suas vidas privadas. Como não havia a presença de repórteres nas badaladas festas que promoviam, sua fama foi construída pela imaginação das pessoas. A curiosidade era aguçada por relatos ocasionais raramente ilustrados por imagens. As festas no casarão de Carlos e Gilda Guinle, na enseada de Botafogo, no Rio de Janeiro, ficaram internacionalmente famosas sem um único filme, foto ou selfie.

Na segunda metade do século XX, isso mudou. A fotografia ganhou espaço nos jornais. A televisão se popularizou e o mundo do audiovisual se impôs de maneira avassaladora. Assim, a fama deixou de ser tecida apenas pela imaginação. Foi nesse momento que alguns personagens da família Guinle, em especial o playboy Jorginho, filho de Carlos e Gilda, começaram a ganhar visibilidade e viraram celebridade. Ao mesmo tempo, surgiram as colunas sociais, que vivem de estampar fotos e revelar informações privilegiadas do high society.

Já em 1900, Eduardo Guinle, irmão mais velho de Carlos, aprendia, em Paris, como era importante andar acompanhado pelo que chamamos de “colunáveis”. Ao lado de amigos ricos e influentes e de namoradas famosas, as portas do jet set se abriam mais facilmente. Ao longo do século, os Guinle acrescentaram ao seu convívio reis, presidentes, atores e atrizes de renome, personalidades do mundo esportivo etc. A seu modo, souberam surfar na crista da onda desse universo restrito, o das celebridades.

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