Clóvis Bulcão

Em busca do passado perdido

10 / agosto / 2015

Os Guinle no Uruguai – Parte II

Coluna Clóvis Montagerm 2

A capital do Uruguai não tem nada a ver com o clima que percebi na fronteira de Bagé, no Rio Grande do Sul. Montevidéu é uma cidade híbrida. Em alguns aspectos lembra Buenos Aires, com suas bancas de jornal recheadas de publicações locais e as muitas árvores de plátano, que emprestam um ar francês às ruas. Já a informalidade remete ao Brasil, em especial o Rio de Janeiro. Lembro-me de ter jantado em um restaurante muito popular, El Gaucho, na Avenida 18 de Julho, região central, que se orgulhava de ter uma foto de um ilustre frequentador: Pepe Mujica, o ex-presidente uruguaio.

O objetivo de minha segunda viagem ao Uruguai foi tentar buscar alguma informação sobre a passagem dos Guinle por Montevidéu. No início dos anos 1840, o francês Jean Arnaud Guinle imigrou para a cidade, onde chegou em plena guerra civil. Por isso acabou se mudando para Porto Alegre, pouco depois. Como havia escassas informações sobre esse que foi o fundador da dinastia Guinle no Brasil, achei necessário fazer essa investigação. O único dado conhecido era seu casamento com Josephine Désirée Bernardine Palassim, na catedral da capital uruguaia.

Havia uma pista a ser seguida. Ao longo da guerra civil, a comunidade francesa organizou um batalhão para defender seus prósperos negócios em Montevidéu. Essa legião contava até mesmo com um jornal comunitário, o Patriota Francês. Assim, em tese, as chances de encontrar traços da trajetória de Jean Arnaud eram grandes. Fiz parte da pesquisa na Biblioteca Nacional local e encomendei também uma obra rara, La Legion Francesa, ao sofisticado livreiro André Linardi. A intenção era manter algum vínculo com um expert na produção editorial local a quem eu pudesse recorrer, se fosse necessário.

Após três dias de busca na biblioteca, encontrei uma única vez o sobrenome Guinle, numa personagem mulher. E foi com a ajuda de Linardi que matei a charada. Consultando um dicionário uruguaio de nomes de família que havia em sua loja, ficou claro que os Guinle que permaneceram em Montevidéu foram simplesmente tragados pelos acontecimentos da guerra civil. Ninguém com quem conversei na cidade — livreiros, bibliotecários, motoristas de táxi, pessoal do hotel — conhecia esse sobrenome.

O nome Guinle é comum na França, mas nem todos os cidadãos que têm esse sobrenome são do mesmo ramo. Ao longo do século XIX, eles se espalharam por diversos países: Estados Unidos, Canadá, Austrália, México, Inglaterra e Argentina. Apesar de não terem ficado no Uruguai, nossos Guinle acabaram estabelecendo um novo vínculo com o país vizinho. Eduardo Palassim Guinle, filho de Jean Arnaud, casou-se com Guilhermina, filha de uruguaios. E o mais incrível, ainda hoje: os parentes uruguaios da matriarca mantêm contato com os Guinle brasileiros.

link-externoLeia mais: Em busca do passado perdido – parte I

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