Clóvis Bulcão

Brocoió, a ilha misteriosa

17 / agosto / 2015

O Palácio de Brocoió em foto de 1933. (Fonte: Casa Vogue)

O Palácio de Brocoió em foto de 1933. (Fonte: Acervo Roberto Cabot/via Casa Vogue)

Na da baía de Guanabara, existe uma ilha pouco conhecida à qual, atualmente, só se chega de helicóptero. Esquecida, Brocoió é um mix de ilha da Fantasia com ilha da Utopia. Ela já foi propriedade de Octavio Guinle, o construtor do Copacabana Palace. Foi lá que ele ergueu, na década de 1930, uma das mais belas residências da cidade do Rio de Janeiro. O que teria motivado Octavio a construir uma casa tão luxuosa, já que seu endereço permanente era o próprio hotel e sua casa de veraneio ficava em Teresópolis? A resposta é um mistério até mesmo para seus filhos.

Uma das minhas fontes para o livro Os Guinle revelou que as sofisticadas festas realizadas em Brocoió eram inesquecíveis. Os convidados, todos integrantes da alta sociedade carioca, só chegavam ao local em potentes lanchas ou em sofisticados veleiros. A adega da mansão era sabidamente a mais bem abastecida da capital do Brasil. Ao fim da noite,  os convidados esticavam a noitada em suas embarcações, para festinhas exclusivas e privadas.

Em meados da década de 1940, Brocoió foi adquirida pelo governo federal. A fim de justificar a compra do palacete com dinheiro público, ficou combinado que a ilha seria aberta à visitação. Assim começaria a fase utópica de sua existência, com todo o seu luxo e fausto ao alcance da admiração do povo.

A casa de Brocoió atualmente (Fonte: Acervo Roberto Cabot/Casa Vogue)

A casa de Brocoió atualmente (Fonte: Acervo Roberto Cabot/via Casa Vogue)

É bem verdade que detalhes da propriedade em Brocoió nunca foram divulgados, mas o pouco que se sabe é suficiente para afirmar que se trata de uma propriedade em que o exotismo predomina. Em 1937, o jornalista Magalhães Correa traçou um perfil do local: “cenário fantástico, sonho materializado e castelo de fadas”. Ao fim do artigo, decretou: “Brocoió é, sem favor, a mais bela e encantadora das ilhas da Guanabara.”

Talvez tenha sido toda essa história que motivou o governo a tratá-la com deferência — tanto que passou a chamá-la de Palácio de Brocoió. No entanto, a ilha nunca foi aberta ao público. Hoje, ela está praticamente abandonada por seu atual proprietário, o Estado do Rio de Janeiro. A mídia só a menciona de raro em raro, e quando o faz é para lembrar os custos de manutenção de um bem que não serve para nada.

Outro agravante: essa parte da baía da Guanabara é uma das mais poluídas, tornando o local pouco atrativo.

Brocoió poderia ter outra finalidade. Nunca antes na história do Rio de Janeiro a despoluição da baía esteve tão na pauta. O fracasso da limpeza de suas águas para as Olimpíadas de 2016 irritou a opinião pública. Talvez fosse o caso de se usar a linda residência como um quartel-general onde se discutiria a salvação da Guanabara. Se o cais fosse reativado e o acesso marítimo retomado, uma simples visita à ilha poderia ter a função de acompanhar de perto o projeto de despoluição.

O professor da PUC-Rio Jose Márcio Camargo diz que a baía é o maior ativo turístico do Rio de Janeiro, mas um ativo desprezado. Paquetá, Brocoió e até mesmo a ilha do Governador são locais de rara beleza. Infelizmente, devastados pela sujeira. Prefiro achar que, em breve, será possível reviver o passado, quando passear de barco pela baía de Guanabara era um programa glamouroso e sofisticado.

Comentários

4 Respostas para “Brocoió, a ilha misteriosa

  1. Não acredito que até hoje essa ilha não está aberta para visitação. Como um patrimônio do governo federal, com certeza compro e pago com recursos federais( públicos); no mínimo deveriam abrir para visitação, mesmo que fosse cobrado um valor irrisório apenas para a manutenção do local. Visto tratar-se de um lugar totalmente histórico. É nosso legado sendo esquecido.

  2. Tem o meu apoio por um movimento pela visitação pública.

  3. Sim, Brocoió foi muito utilizada na década de 80, quando festas realizadas por uma filha de um um finado governador de estado que organizava festas psicodélicas em sua sede. Quem frequentava Paquetá sabe…. ah década de 80….

  4. Eu sou de 1940. Lembro do comentário dessas festas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *