Clóvis Bulcão

As noivas do Copacabana

31 / agosto / 2015

Foto por Demetrius Borges Studio

Foto por Demetrius Borges Studio

Uma amiga, de São Paulo, me perguntou: “Você agora escreve sobre grã-finos cariocas?”. Eu sempre digo que a história da família Guinle é uma saga brasileira. Tudo começou quando dois gaúchos, Eduardo Guinle e Cândido Gaffrée, construíram o porto de Santos, enriqueceram e fizeram fama no Rio de Janeiro, então capital do Brasil.

Seus descendentes tiveram papel relevante na formação da moderna cultura brasileira. Os Guinle contribuíram, por exemplo, com doações para importantes instituições, como o Arquivo Público Mineiro, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Museu Imperial, em Petrópolis, e o Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro.

A história da música popular brasileira não pode ser contada sem que se mencione a atuação dos irmãos Guinle, pois músicos como Pixinguinha, Donga e João Pernambuco eram apoiados por Arnaldo. Até mesmo Heitor Villa-Lobos e a Orquestra Sinfônica Brasileira contaram com seu patrocínio. Essa espécie de mecenato se estendeu aos esportes, especialmente o futebol e o automobilismo.

Mas existe algo bem menos palpável que permanece no imaginário de milhares de jovens em todo o Brasil, ainda que não se trate propriamente de um legado dos Guinle. Refiro-me ao sonho de se casar no Copacabana Palace Hotel, acalentado por um número expressivo de noivas em todo o território nacional.

Em minha pesquisa para o livro Os Guinle, não consegui detectar em que momento o hotel se tornou um fetiche entre as noivas. O Copacabana, desde a sua inauguração, em 1923, foi o maior símbolo de sofisticação e requinte do país. Seu dono, Octávio Guinle, era um empresário meticuloso que diariamente inspecionava as instalações de sua propriedade com rigor.

Assim, não era qualquer pessoa que podia trabalhar no hotel. Havia um sem-número de exigências a serem cumpridas pelos funcionários, desde o cuidado com a aparência (eram motivo para demissão, por exemplo, cabelos desalinhados ou o uso de meias claras) até a forma como eles deveriam olhar para os hóspedes.

O tempo passou, o Brasil mudou, mas o hotel à beira-mar demorou um pouco a acompanhar o rumo dos acontecimentos. Para se ter uma ideia, até a morte de seu fundador, em 1968, nenhum outro hotel do mundo mantinha tantos  funcionários por quarto quanto o Copa. Além do mais, havia uma obsoleta e extraordinária estrutura em seu interior, que incluía até mesmo criação de aves e marcenaria. Vendo fotos antigas do hotel, percebe-se como o seu mobiliário era luxuoso.

Apesar de tudo, um casamento no Copacabana Palace ainda representa um símbolo inequívoco de status. E um símbolo nacional, pois metade das festas de casamento realizadas em seus históricos salões é promovida por noivas de fora do Rio de Janeiro. Segundo fontes da casa, para esses eventos andares inteiros são reservados.

Como esse sonho de consumo é caro, milhares de casais adotam uma opção mais barata, passando apenas a lua de mel, ou uma parte dela, num dos quartos do glamouroso hotel. E talvez esse seja o maior legado dos Guinle na vida de inúmeros jovens casais brasileiros.

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