Filipe Vilicic

Quem preciso ser para ganhar 1 bilhão com uma startup?

23 / julho / 2015

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Os geniais Steve Jobs e Steve Wozniak: criaram o padrão de empreendedores do Vale do Silício

Leitores de O clique de 1 bilhão de dólares, meu livro sobre a história da criação do Instagram pelo brasileiro Michel (Mike) Krieger, me mandaram mensagens perguntando: “Qual o segredo por trás desses empreendedores do Vale do Silício?” Como bem colocou um leitor em palestra que dei recentemente em São Paulo: “O que faz alguém ter uma ideia de 1 bilhão de dólares? E como posso ter uma?” Não há fórmula pronta. Mas existe uma série de similaridades que podem inspirar o candidato a empreendedor.

Sobre não ter “fórmula pronta”, entenda-se: não siga a receita dos outros. No caso do Instagram, isso deu errado. De início, o americano Kevin Systrom apresentou a Mike uma ideia bem diferente, o Burbn (de bourbon, um tipo de uísque; bebida preferida de Kevin). O Burbn seguia uma fórmula típica da época: um app de geolocalização similar ao Foursquare (aquele em que se dá check in onde se está) com elementos extras de redes sociais, como o compartilhamento de status e imagens (bem parecido com o Twitter).

Além de ser uma imitação, o Burbn era confuso e mal estruturado, como o próprio Mike, mais entendido em engenharia de software que seu sócio, logo pontuou. Assim, o app afastava usuários, que não viam motivo para ingressar na rede social, sobretudo os que não eram do círculo social dos fundadores. Por isso o projeto estava fadado a desaparecer, conforme a grande maioria das startups.

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Os fundadores do Instagram, o brasileiro Michel (Mike) Krieger e o americano Kevin Systrom: deram certo por acreditar em uma ideia (mesmo quando muitos não achavam que ia dar certo)

Foi preciso então um pivot. No jargão local, pivot (manobra de dança em que o dançarino realiza um giro em torno do próprio eixo) representa uma mudança brusca nos rumos da empresa. No caso do Burbn, o pivot foi mais que uma mudança de planos, já que o app passou a refletir as ideias e as paixões de seus criadores.

Números indicavam que os parcos cadastrados na rede social acessavam o programa basicamente para compartilhar fotos. O mais importante, contudo, é que a dupla percebeu que o que era mais legal era fazer um aplicativo limpo, no estilo do design e da engenharia do brasileiro, focado em realizar apenas uma coisa (tirar e compartilhar fotos, passatempo de Kevin desde a infância) em um dispositivo, o smartphone, no iPhone, o aparelho que mais chamava a atenção dos empreendedores do Vale na época.

Em suma: o que torna uma startup uma criação de bilhões de dólares é a mescla das paixões dos fundadores. Steve Jobs e Steve Wozniak conceberam a Apple nos anos 70 não para ficar milionários do dia para a noite (o que aconteceu), mas, sim, por estarem fixados em uma visão: a de que os computadores pessoais, de mesa, tomariam a vida das pessoas. Tim Berners-Lee desenhou o World Wide Web, o www (ou “a internet tal qual conhecemos”), não para correr atrás de riqueza (o que não conseguiu, já que abriu mão da patente em prol da popularização gratuita ), mas, sim, para conectar todos os colegas cientistas do planeta e, depois, cada indivíduo da Terra em uma única rede.

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Allen e Gates, criadores da Microsoft, em 1981 e 2013: há similaridades entre as duplas de fundadores das grandes empresas da indústria digital?

Foi da persistência de Kevin e Mike na concretização de uma ideia que o Instagram surgiu e deu certo. E esse é um elemento que qualquer um que queira fazer algo novo precisa exibir, seja um empreendedor ou um artista. Acreditar que vale a pena — essa é a gana necessária a qualquer um que deseja ir atrás de seu bilhão de dólares. Em seguida, tem-se de procurar pelos profissionais certos, capazes de criar o que se idealiza.

Kevin, por exemplo, foi compelido por investidores a arranjar um parceiro capaz de desenhar o app, algo que ele não fazia com eficiência. Isso o levou ao brasileiro Mike. E juntos eles formaram a clássica dupla do Vale. Kevin é até hoje visto como “metido”, “irascível”, “bom de lábia”, com “ótimas ideias”, mas “péssimo executor”, assim como Jobs, na Apple, ou Bill Gates, na Microsoft.  Mike é o “trabalhador”, “tímido, avesso a holofotes”, “melhor em criação”, tal como Wozniak na Apple ou, em certa medida, Paul Allen na Microsoft.

Sim, os adjetivos são exagerados e estereotipados. Mas a imagem criada para o público trata-se de uma mescla de perfis típicos do Vale que costuma dar certo justamente por corresponderem às habilidades esperadas dos empreendedores na região. Entre elas, é preciso saber como arranjar dinheiro e clientes e como lidar com os embrulhos do mundo burocrático. Fora isso, é investir tempo, ou melhor, a vida, no projeto. Essa é a lógica que dá certo no maior polo de inovação do planeta, o Vale do Silício californiano. Porém, como se costuma dizer na região, “o dinheiro vem apenas como consequência”. E muitas vezes não vem. É duro? Sim, mais do que imaginam os olhares distantes.

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