Clóvis Bulcão

Pretinho básico e ação social: o legado das mulheres Guinle

23 / julho / 2015

Evangelina na primeira montagem de Vestido de noiva, peça de Nelson Rodrigues. Crédito: FUNARTE/ Centro de Documentação

As mulheres da família Guinle ainda hoje me surpreendem. Durante o lançamento do livro Os Guinle no Rio de Janeiro, uma delas me contou que já viveu com dois homens, tal qual a matriarca, Guilhermina. Os superelegantes rapazes Guinle não eram lindos, sua fama era muito mais ligada a seu estilo de vida. E as Guinle?

A saga Guinle é uma epopeia basicamente masculina. Desde que o patriarca chegou ao Brasil, em 1842, muitos homens da família foram protagonistas nos mais diferentes campos. Quem já leu o livro sabe que eles é que comandavam os destinos dos Guinle, seja nas atividades ligadas a esportes, como futebol e automobilismo, seja nos mecenatos da música popular e erudita brasileira, seja no mundo empresarial. Mas as Guinle também se impunham.

A primeira a merecer destaque é Guilhermina, que sempre foi muito generosa. Foi nela que seus filhos se espelharam e, assim, acabaram contribuindo para o desenvolvimento das artes e da educação no país.

Sua neta, Evangelina Guinle, que foi atriz amadora, deixava os homens atônitos por sua beleza, dizia Nelson Rodrigues. Em 1943 ela participou da histórica montagem de Vestido de Noiva, do dramaturgo e, segundo o crítico de teatro Paulo Francis, foi responsável pela desmitificação de que as atrizes, em pleno século XX, eram mulheres de má fama.

Branca Guinle, tia de Evangelina e nora de Guilhermina, era tão bela que foi disputada por dois primos: os irmãos Eduardo e Guilherme. Sua principal característica era o despojamento — consta que até evitava usar as joias caríssimas que ganhava de Eduardo, com quem se casou.

Dolores Guinle, mulher do playboy Jorginho, foi internacionalmente reconhecida por sua rara beleza. Chegou a figurar na lista das mais elegantes do mundo na exclusiva coluna do jornalista americano Ghighi Cassini. Ela introduziu duas modas imbatíveis na vida das brasileiras: as joias com formas de figas e balangandãs e o pretinho básico.

Sua sogra, Celina Guinle, também foi uma das mulheres mais elegantes de seu tempo. Sua extensa coleção de vestidos e joias encantava a alta sociedade. As constantes

recepções em sua casa, na praia de Botafogo, eram marcadas por uma sofisticação sem fim.

Outro fato surpreendente que narro em Os Guinle foi a mudança ocorrida no comportamento das senhoras da elite carioca em relação às atividades caritativas. No Brasil, ao longo do século XX, as mulheres endinheiradas ajudavam os necessitados de forma muito pontual. Eram jantares, almoços e chás de caridade. Mas com Celina Guinle de Paula Machado isso mudou.

Celina colocou a mão na massa, reunindo-se, por exemplo, com empregadas domésticas e indo para o corpo a corpo em favelas. Isso hoje é comum, mas na década de 1940 representou uma ação social pioneira. Como os Guinle eram considerados modelares, as atitudes de Celina criaram escola no Rio de Janeiro.

Da intensa atividade de Celina nasceram dois ícones da luta contra a redução da desigualdade social no estado: a Feira da Providência e o Banco da Providência.

Ah, as Guinle!!! Generosas e belas!

link-externo Conheça Os Guinle: A história de uma dinastia

Comentários

Uma resposta para “Pretinho básico e ação social: o legado das mulheres Guinle

  1. Chegaram ao zenith e depois cairam com grande estrondo. Deixaram, como cometas, atrás de si, um rastro de luz e beleza. Suas residências, hoje palácios do Estado. Uma pena terem colocado abaixo a bela casa na praia de Botafogo. O playboy Jorginho Guinle, baixinho e feínho, tinha em volta de si, algumas das mais famosas estrelas de Hollywood. Morreu pobre, sustentado por amigos. Sua Dolores se mandou cedo em busca de títulos de nobreza, que conseguiu. Era muito bonita e simpática. O decor para esse povo era o Copacabana Palace, ainda nas mãos deles, sendo perdido , alienado, logo a seguir. Esse o drama de muitas fortunas , que não possuem descendentes capazes.

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