Entrevistas

Entrevista com Josh Malerman

13 / julho / 2015

Josh Malerman

Selecionamos dez perguntas dos leitores para uma entrevista com Josh Malerman. O autor de Caixa de pássaros respondeu aos fãs com muito bom humor.

Confira a mensagem e as respostas:

Ótimas perguntas, todas elas. Obrigado, pessoal. Acho que prefiro as perguntas dos leitores às das entrevistas de verdade; claro que depende de quem conduz a entrevista. Mas há algo… solto com relação a essas perguntas. São mais cuidadosas. As coisas em que você pensa ao ler um livro e a maneira como a mente funciona sob o jugo da imaginação.

Até logo,

Josh

1- Leticia Ramos de Mello Oliveira: Muitos escritores de terror preferem o horror gore, que envolve sangue e criaturas assassinas. Por que você decidiu, logo em seu livro de estreia, investir no terror psicológico, que é mais difícil de ser escrito, mas também é o mais apavorante?

Bem, eu amo todos. Todo o espectro negro. Do homem arrastando as próprias entranhas por uma ruela às sombras entre os muros que o observam. Caixa de pássaros se desenrolou na minha frente; eu não comecei a escrevê-lo. Depois de um tempo, entretanto, pude perceber que era mais um “livro psicológico”, e então deixei ele lá, sendo o que ele era. Perto do fim, comecei a me perguntar: “Você vai mostrar essas criaturas? Vai?” E a resposta está no final do livro.

2- Letícia Viana: Quando você tinha uns oito ou nove anos, já pretendia escrever um livro?

Quando eu era criança, no acampamento de verão, eu contabilizava as histórias que queria escrever. “Tem aquela da floresta, tem aquela do lago…”, como se a floresta e o lago não pudessem estar na mesma história. Lembro-me de contar as histórias nos dedos da mão direita, me perguntando se eu teria tempo/forças para escrever as cinco. Agora acho engraçado, mas de certa forma não mudei nada. Ainda tenho cinco ideias que mal posso esperar para colocar no papel.

3 – Mateus Alves: Muitas pessoas, ao terminarem de ler o livro, ficaram divididas entre definir o que de fato era a criatura, se era algo sobrenatural ou se eram somente a psique humana e as privações de sentidos. A minha pergunta é: você teve essa dúvida durante a produção do livro?

Não. Eu sabia o que eu queria o tempo todo. Quero dizer, sou do time que acredita que as criaturas estão lá fora. Mas isso não significa que eu esteja certo, né? Não tenho certeza. Gosto muito do que Gary e Don tinham a dizer. Mas, se eu estivesse na casa, talvez eu tivesse fugido.

4- Luiz Daniel: Qual é a coisa mais difícil em ser um escritor?

Bem, é só amor, sabe? É uma viagem magnífica por dentro do Túnel do Amor com suas ideias sentadas ao seu lado no banco. A parte mais difícil é quando fica escuro, quando você já escreveu setenta páginas do livro e sabe que ainda faltam duzentas. É capaz de você se sentir bem sozinho. Amedrontado. Mas tem que manter o entusiasmo pela ideia original. Lembre sempre por que começou a escrever. Então, eu diria que a parte mais difícil é estar na metade do caminho, no meio do livro, e acreditando que você tem energia suficiente para chegar do outro lado.

5- Vânia Guedes Lopes: Josh, entre cantar e escrever, o que te satisfaz mais?

Tanto música quanto ficção têm a ver com escrever. Escrever as letras, escrever o livro. Mas eu definitivamente me apaixonei por livros primeiro. Livros de horror. Agora eu amo os dois. Mas sempre valorizei as ideias acima de tudo. Prefiro uma música brilhante mal interpretada a uma música mais ou menos bem cantada. Estou menos interessado nos atores e mais interessado na pessoa que criou o personagem.

6- Paola Carleto Durante: A escritora de Cinquenta tons de cinza escreveu um livro da perspectiva  de outro personagem. Você já imaginou escrever uma continuação para Caixa de pássaros da perspectiva das tais “criaturas”?

Não da perspectiva das criaturas, mas definitivamente pensei em escrever uma sequência com personagens de outra casa, pessoas que nunca tivessem ouvido falar nem de Malorie nem de Tom. No entanto, descobri que esse tipo de sequência é feito toda hora e desanimei. Vamos seguir para outra história. Mas mesmo assim penso na Malorie o tempo todo. Fico me perguntando como ela está se virando. Penso em Gary também. Imagino que está sem camisa, suado, vagando pela floresta do lado de fora da Escola para Cegos Janes Tucker.

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7- Ana Elisa de PaulaCaixa de pássaros vai ter continuação?

Não me oponho a essa ideia. Por que não, né? Poderia ser bem divertido. Mas, ainda assim, gosto da fumaça que ficou, a forma como o livro evapora… como Malorie e as crianças existem na névoa, num mundo indefinido. Caixa de pássaros é mais uma impressão do que uma fotografia. Se eu tiver uma ideia brilhante, vou escrever. Mas de qualquer forma tenho pensado em outros livros, outros medos.

8-Taciana Guedes: Querido Josh, como muitos, fiz um paralelo imediato com a obra Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago. Gostaria de saber quais foram as suas inspirações ao escrever Caixa de pássaros. E qual o significado de medo para você? Por que escrever sobre isso?

Não vi Ensaio sobre a cegueira, mas vou ver. Também não li Day of the Triffids, mas vou ler. É difícil listar as influências de Caixa de pássaros: todos filmes e livros que vi e li estão lá.

Eu estava pensando em algo bem menor quando me sentei para escrever. Estava pensando na série A quinta dimensão. Uma história simples de vizinhança. Uma catástrofe entre pessoas que não se conhecem. Penso em Caixa de pássaros como o primeiro episódio de um espetáculo bem maior. Sou o anfitrião e espero que todo ano eu possa apresentar outra história assustadora, pequena, mas do tamanho de romances, até que pareça que uma temporada ou duas se passaram. Então talvez eu seja tão influenciado por Elvira e Rod Serling quanto sou por Peter Straub e Charles Grant.

9- Martim Gallo: Quais são seus autores favoritos?

Vou listar os livros que li recentemente. Amei todos eles.
The Bridge, John Skipp e Craig Spector
A canção de Kali, Dan Simmons
Florestranha, Christopher Golden
The Devil in Silver, Victor LaValle
Charnel House, Graham Masterton
Pregos vermelhos, Robert E. Howard
O homem do castelo alto, Philip K. Dick

10- Nikolas Starke: Você está escrevendo outro livro? Ou pretende escrever mais um?

Sim, com certeza! Estou reescrevendo o segundo livro. Por enquanto o título é Every Good Boy Does Fine. É assustador para caramba. E mal posso esperar para mostrar para vocês.

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Leia também:
Pássaros no escuro, por Pablo Rebello
Loucura e horror às cegas, por Alexandre Sayd

Comentários

11 Respostas para “Entrevista com Josh Malerman

  1. É tão emocionante quando um escritor de quem você é fã responde a uma pergunta sua!

  2. Sou muito fã do Josh, super gente boa e acessivel. Quero muito poder conhecê-lo quando vier ao Brasil. Intrinsica, espero que vocês continuem lançando os livros do Josh.

  3. Genteee…vi somente agora que minha pergunta foi selecionada e respondida..WOW…Realmente, o Josh é um querido..muito Obrigadaaa

  4. Nossa! esse livro é ótimo, não consegui parar de lelo do momento em que peguei em minhas mãos fiquei em estado de transe pela a historia de Maloire, espero que esse livro tenha continuação. porque tipo, como Maloire se virou na instituição? Não aconteceu outro acidente? Sera que seus filhos estão a salvo de Gary? E a pergunta mais importante: Será que tudo voltará ao normal?

  5. Fiquei preso no livro do começo até o fim, e confesso que não conseguia o ler á noite. Acho que Josh está no caminho certo e que deve deixar a história progredir, e que o final desta tenha ao mesmo tempo uma conclusão possível e um final nebuloso como o primeiro livro.

    Espero me aterrorizar de novo…

  6. ——-MEU COMENTÁRIO TEM SPOILERS——-

    Meu único problema com o livro é que ele deixa muitas pontas soltas. O fato de que os humanos estão lá, presos em sua própria caixa de pássaros, me atormenta. Eles conseguem cultivar comida sem Sol, cuidar de animais em um ambiente limitado e fechado e têm planos de transformar tudo numa fazenda grande, mas não conseguiram ter sequer uma teoria do que eram as criaturas? Não precisava ser uma explicação mastigada, mas nem mesmo um “talvez eles sejam coisas diferentes para cada pessoa que os vê”? E outra coisa: se, na melhor das hipóteses, nenhum ataque ao abrigo ocorrer, quantas pessoas poderão ser abrigadas ali até que uma nova crise ocorra? Vai ter espaço pra todo mundo? Com esse final, a humanidade foi derrotada, de uma forma ou de outra. Nunca mais poderão viver lá fora, como as pessoas normais que já tinham sido um dia, e estão inevitavelmente fadados à destruição quando o espaço no abrigo acabar. E o problema não é a inexistência de um final feliz, mas a inexistência de uma justificativa para o final triste. O livro é muito bom, as sequências são excelentes, o modo como foi escrito é incrível, mas, ao menos pra mim, ficou uma sensação de incompletude, seja para o “felizes para sempre” ou para o “e todos morreram dentro de alguns anos”. 4,5 de 5 estrelas.

  7. Simplesmente amei o livro. Particularmente, meu personagem favorito é Gary, suas ideias me deixaram deslumbrada. Gostaria muito que tivesse uma continuação, ou melhor um livro inteiro da perspectiva de Gary, seria extremamente fascinante entender melhor sua mente doentia, psicótica e brilhante.

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