Maurício Gomyde

Do básico ao acabamento

16 / julho / 2015

Escritório onde escrevo meus livros

Escritório onde escrevo meus livros

Nos últimos dias, o trabalho em cima do novo livro foi intenso. Terminamos a edição hoje, após o pingue-pongue com a editora, e estou realmente feliz com o resultado. Acho, sinceramente, que os leitores vão gostar da história. Aguardem que setembro está logo ai!

Mas um fantasma ficou me atormentando: eu precisava escrever o texto para a coluna do blog e o envolvimento com a história não me deixava pensar em nada. Eu andava acordando e dormindo com os personagens, realmente não sabia o que escrever. Só que a ideia da coluna estava bem à minha frente e ainda bem que percebi a tempo… Por que não falar um pouco sobre o caminho percorrido pelas histórias publicadas? Refiro-me ao caminho que começa na mente do autor e termina nas prateleiras das livrarias. Acho que muita gente não faz ideia do processo, então vou tentar condensar, em poucos passos, como funciona mais ou menos a coisa.

Vamos lá.

Passo 1: Escrever. Aqui, uma sequência quase interminável (só não é interminável porque há uma coisa chamada “prazo”) de verbos: ter a ideia, colocar no papel, revisar, apagar tudo, começar de novo, voltar, embriagar-se pelas cenas incríveis e pelos brancos da mente, rabiscar, imprimir, chorar, dar risada, ter insônia, digitar, deletar, ajeitar, completar, finalizar e, enfim, chegar à conclusão, meses depois, que foi bom enquanto durou, valeu, isso foi o melhor que pude fazer. Em geral, esse passo termina em um porre, numa comemoração na maior parte das vezes solitária.

Passo 2: O produto daquele esforço descomunal segue para leitores beta, que são pessoas escolhidas a dedo para criticar, elogiar e procurar incoerências que o “gênio” deixou passar. O beta é o peixe mais invocado do mundo, e acho que vem daí o nome. O beta deve, obrigatoriamente, ser alguém sem papas na língua e, se for preciso, alguém capaz de humilhar o autor com frases como: Você tá maluco? Como tem coragem de escrever uma atrocidade dessa? Importante lembrar que escritores de verdade não terminam amizades com seus betas, ainda que às vezes desejem encher-lhes a cara de socos. Xinguem o autor, mas não o livro, meu povo, porque livros são filhos e pelos filhos a gente vira bicho!

Passo 3: Nesse momento, o passo 1 é revisitado. Provavelmente sem o porre final.

Passo 4: Após a certeza de que está no ponto, o livro enfim é enviado para a editora. É, aqui, a primeira hora da verdade: quando os editores vão ler e decidir se vale a pena publicar aquilo com a sua logo na capa. Caso o livro seja considerado uma bomba (no mau sentido) e recusado, haverá motivo para novo porre do autor, dessa vez com consequências imprevisíveis. Se, por outro lado, o livro for considerado uma bomba (no bom sentido), é festa.

Passo 5: Festa? Os editores cumprirão seu papel e, independentemente do quão genial o autor se ache, vão meter a colher, sugerir cortes, alterações e inclusões, ou até trucidar o “gênio”, caso tenha passado despercebido (pelo “gênio” E pelo beta) um menas ou um ancioso (em momentos assim, é provável que até considerem a hipótese de cancelar o contrato, mas todo mundo merece uma segunda chance). Caso a relação profissional não termine em divórcio litigioso, o livro seguirá para o próximo passo.

Passo 6: Capa, diagramação, foto do autor, textos de apoio e estratégias de lançamento. Há autores que não se envolvem muito (à exceção do momento da foto, é óbvio), e há outros que tentam dar pitaco em todos os detalhes. Como fui independente, tenho costume de fazer tudo. Eu era como loja de material de construção: do básico ao acabamento. Mas, como estou em uma editora experiente e parceira, confio na criatividade da turma e sei que virá um produto final de qualidade. (A propósito, dentro de poucos dias conhecerei a capa do livro. “Ansiedade define”, como dizem por aí).

Passo 7: Esse último passo compreende, finalmente, os eventos de lançamento e a chegada do livro à prateleira. É a segunda hora da verdade: a do crivo dos leitores.

O ciclo então recomeça, com uma ideia para o próximo livro, novas alegrias, angústias e muito trabalho. Mas é claro que o próximo só existirá se a última parte do Passo 7 for satisfatória. Afinal de contas, é para os leitores que escrevemos.

Bom, mas isso já é polêmica para outra coluna.

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Comentários

11 Respostas para “Do básico ao acabamento

  1. Muito bom! Quero muito ser escritor um dia e a prosa do Maurício é muito boa. Dicas valiosas e bem humoradas.

  2. Maurício, acabei recentemente de revisar meu livro novo. Sei bem, e com a clareza de uma lembrança muito próxima, de tudo o que você relatou. Todo o processo extenuante de lapidar o texto, reler e remendar frases e parágrafos inteiros… não é mole, não. E ainda bem. Porque o esforço, o aprimoramento, sempre vale a pena. Sabemos que quanto mais nos dedicamos, melhor é o resultado. Como em qualquer profissão, mas, na nossa, a realização está também no processo. Quando recebi a revisão paginada algumas semanas atrás, fiquei em êxtase. Mesmo sabendo a pedreira que me aguardava, rs. Aguardo ansiosamente pelo seu novo livro, amigo! Quero ver logo essa sua capa! #AnsiedadeDefine

  3. hahaha e eu aqui imaginando o autor dando um soco na cara do beta. Só o Maurício mesmo.

  4. Tirando a parte que muitas editora leem somente a sinopse e não o livro, achei bem legal a explicação, principalmente para quem esta querendo começar

  5. Hahahaha é isso aí. Legal a coluna, é esclarecedora para os leitores saberem como é o processo de um livro, muita gente acredita que é algo simples e fácil. Aguardando a próxima 😉

  6. Gostei demais do texto. Ansioso pelo livro.

  7. Ansidade define. Essa é a melhor definição para o que estou sentindo por esperar o livro do Mauricio. Setembro chega logoooooo.

  8. Apesar de muito próxima ao Mauricio nunca soube

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