Leticia Wierzchowski

Das liberdades

30 / julho / 2015

lonely_final

Ilustração de Monica Garwood. (Via http://bit.ly/1MwMUTO)

Já tive péssimas experiências com a internet. E já aprendi algumas coisas também — a mais importante delas é: não retruque. Deixe que os tolos gritem no vácuo. Sempre que você retruca, está amplificando um tolo. E a internet — este mundo incrível, este mar de possibilidades — tem seus tubarões de araque, seus chatos de plantão, seus monotemáticos, teimosos e furibundos.

Alguém já disse que o maior problema da internet é que ela não tem editor. Nela se diz qualquer coisa, a qualquer hora. Pessoas relativamente cordiais, na web, pisoteiam as desgraças alheias, espalham peçonha em posts. Internet é igual a carro — conheço muita gente cordata e gentil que não respeita a faixa de pedestres, como se o mundo dentro do automóvel fosse outro, cujo centro fosse o motorista. O virtual, para alguns, guarda esta mesma lógica: a criatura está no centro, sentada na sua sala, disparando tiros ao léu — tiros de festim, por certo. Fica ali xingando fulano e beltrano, maldizendo sicrano porque não tem a sua ideologia política — como se uma terra de iguais fosse bom! Já dizia Nelson Rodrigues que toda unanimidade é burra. Mas existe a turminha da patrulha ideológica, a turminha que ofende aqueles que pensam diferente.

Não faço a mínima questão de pensar igual aos outros. Nem quero que pensem igual a mim. Entre a minha verdade e a do outro existe um mundo inteiro de possibilidades. Ainda bem. Mas sempre que digo alguma coisa, sempre que deixo entrever uma pontinha de opinião sobre a atual situação política e econômica do Brasil, alguém vem de lá e diz: não vou mais ler seus livros!

Sabem o que acho? Não leia mesmo. Leitores são a priori criaturas de alma aberta; leitores necessitam sonhar, devem ter a condição de entrar na pele de um personagem de vida muito diversa da sua. A premissa maior da literatura é a capacidade de acreditar, de olhar pelos olhos do outro. Ler ficção é abrir mão de preconceitos. Não sou meus livros, assim como não sou meus leitores. Nem meus leitores são como eu — espero que não! Gosto da internet, gosto das redes sociais, assim como gosto de gente que abre a porta do elevador para terceiros e de gente que não fala ao celular no cinema. Num mundo cada vez mais povoado, os tolos proliferam, o que não significa que tenham razão.

Comentários

Uma resposta para “Das liberdades

  1. Leticia, adorei! Estive conversando com alguns amigos sobre isso., e realmente num vale a pena retrucar…é tolice… entre outras coisas. As pessoas deviam usar a internet pra coisas edificantes. Obrigado pelo seu artigo. Beijão flor!

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