Pedro Gabriel

[AS RAMIFICAÇÕES DE UM DESTINO ALEATÓRIO]

28 / julho / 2015

07.28 - coluna

Observar árvores imensas encolhido debaixo da sombra das folhas é um passatempo que ultimamente tenho escolhido para descansar meu passo, ocupar meu tempo. Parece que Deus está lá em cima. Às vezes, Ele é só uma folha que cai no outono. Noutras, é a totalidade, a floresta inteira. Além da beleza poética, há uma beleza filosófica nesse gesto contemplativo. Muitas questões humanas foram decididas ou resolvidas com um simples (e gratuito) ato de olhar a natureza. A queda de uma maçã, por exemplo, levantou uma dúvida na cabeça de Newton. Ali brotou a inspiração para formular a famosa teoria da gravitação. A humanidade inteira colheu esse fruto.

Enraizado feito menino diante de um armário de brinquedos que nunca alcança, imagino histórias. Se essa árvore fosse uma pessoa, será que ali, em cada percurso de madeira, haveria uma estrada de sacrifícios e de amores? E se as árvores mudassem suas ramificações em função de cada um que passa a admirá-las, como se projetassem ao vivo a nossa história? Se fossem como uma espécie de holograma natural dos nossos sentimentos, uma árvore genealógica, mas que não se limitasse aos nossos antepassados, à nossa família? Se não fosse simplesmente uma representação gráfica para mostrar nossas conexões afetivas? É como se as ramificações dos galhos fossem o epicentro de todos os nossos destinos. O esqueleto da nossa vida. Uma parábola da existência humana. A tecnologia da natureza com sua invejável estrutura de dados. Cada galho, uma escolha. Cada bifurcação escolhida, um destino diferente. Lá em cima, na copa, a esperança balança com o vento. Ela pode se desprender a qualquer momento. Uma saudade antiga vai à esquerda. Uma dor boba se enfia à direita. Viver é seguir em frente.

O amor é o caule que permite o bom funcionamento de toda essa estrutura. Alimentado pelos bons modos e pelas gentis lembranças, resiste a tempestades, flexibiliza-se para não quebrar. Quando quebra, descobre-se que não era tão amor assim. Era algo menor: uma pequena paixão, talvez. Ou ainda uma queda por alguém. Uma quedinha, daquelas que machucam só um tiquinho. Mas acho que a gente exagera na dor que sente. Parece aqueles tropeços na hora do recreio: um tombo cinematográfico no meio do pátio lotado. A gente chora muito mais pela vergonha de ser visto cair do que pela dor do próprio tombo. Os amantes choram pela vergonha de não ter sido amor. Os amores verdadeiros não choram por pequenos arranhões. Dizem que quando somos traídos nascem galhos em nossa cabeça. Bobagem. É no coração de quem trai que nascem espinhos.

Nosso destino será sempre um caminho inalcançável. Quando chegamos, descobrimos que já é hora de partir. O importante é aproveitar cada escolha, da primeira folha à última falha. Afinal não é todo dia que uma maçã cai em nossa cabeça.

Comentários

4 Respostas para “[AS RAMIFICAÇÕES DE UM DESTINO ALEATÓRIO]

  1. Lindo demais … Nos toca de uma forma diferente !

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