Uma epopeia brasileira

Por Clóvis Bulcão

19 / junho / 2015

elevador lacerda

Elevador Lacerda, Salvador (BA)

Nos dias de hoje, a maior associação que existe ao nome Guinle é o Copacabana Palace. Para muitos, quase todos, essa família está ligada apenas ao Rio de Janeiro. Até faz algum sentindo esse pensamento, pois eles se estabeleceram na cidade, em 1871, e aqui se consagraram. Mas essa ideia não corresponde aos fatos, pois os Guinle tiveram uma clara, e inequívoca, ação em todo o país.

Em primeiro lugar, eles não são cariocas de origem, e sim gaúchos. Eduardo P. Guinle era de Porto Alegre, seu sócio de Bagé e sua esposa de Pelotas. A ideia de construir o porto de Santos foi de outro gaúcho, Chico de Paula, casado com a irmã de Guilhermina.

O principal negócio da família, o porto de Santos, irrigou diversas regiões do Brasil; além de São Paulo, o sul de Minas, o Mato Grosso, o norte do Paraná. Em 1941, até o Paraguai passou a se servir das instalações portuárias dos Guinle.

Antes de terem o porto, Eduardo P. Guinle e o sócio Cândido Gaffrée construíram vários trechos de estradas de ferro no nordeste. Na Bahia, tiveram atuação decisiva na construção de barragens, na distribuição de energia elétrica e nos transportes. Foram eles que eletrificaram o Elevador Lacerda. Ainda em terras baianas, gastaram uma fortuna procurando, e encontrando, petróleo.

chalé dos Guinle

Chalé dos Guinle em São Félix da Cachoeira, BA

Foi em Salvador que Guilherme Guinle, o mais talentoso da família, se transformou em um dos maiores empresários brasileiros de seu tempo.

No início da década de 1920, Arnaldo Guinle financiava músicos como João Pernambuco, Pixinguinha e Donga. Eles viajaram por várias regiões do Brasil, se apresentando, mas também recolhendo músicas populares de qualidade.

Nos anos 1930, Octávio Guinle organizava de forma pioneira excursões pelo Brasil. Seus roteiros iam desde o Rio Grande do Sul até o Amazonas.

Durante a II Guerra Mundial (1939-1945), houve a construção da siderúrgica de Volta Redonda, um dos maiores feitos de Guilherme, pois foi ele que negociou pessoalmente o financiamento e tocou a obra, que irrigava o setor carvoeiro de Santa Catarina, e impulsionava a indústria de base do Brasil.

Em termos de cultura as doações beneficiaram museus no Rio de Janeiro, o Imperial de Petrópolis, o MASP de São Paulo e o Arquivo Público Mineiro de Belo Horizonte.

A saga da família Guinle revela muito da história recente do Brasil.

link-externoLeia um trecho de Os Guinle: A história de uma dinastia

Clóvis Bulcão é historiador formado pela PUC-Rio. Nascido em Botafogo, divide seu tempo entre o magistério e a literatura. Professor do tradicional Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, é autor de Os Guinle, além de um romance histórico e quatro livros de não ficção, incluindo Padre Antônio Vieira: um esboço biográfico (2008).
Clóvis escreve às segundas.

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Comentários

Uma resposta para “Uma epopeia brasileira

  1. O chalé não pertencia a família Guinle!! Kkkk eles se hospedaram lá é bastante diferente.

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