A vida de escritor é definitivamente solitária. São meses, às vezes anos, de silêncio e de trabalho para que um livro fique pronto. Em certos momentos, nos sentimos à deriva, perdidos no vasto oceano da narrativa. A escrita não avança, as velas estão frouxas, e um certo desespero toma conta da gente. Só um escritor sabe o quanto vale uma boa história, disse-me uma amiga, e ela tem toda a razão. Uma boa história é como o vento que insufla as velas e nos faz correr sobre as ondas.
É justamente neste navegar que reside a emoção quase indescritível de ficcionar. Orhan Pamuk, em um dos seus discursos, compara o exercício ficcional à uma jangada perdida no oceano sem fim — durante meses, pode-se ficar ali à deriva, em vasto sofrimento. Porém, basta o vento certo para içar as velas e logo a espera valeu a pena. Afinal, todo o romance é uma travessia.
Faz alguns dias, meu último livro, Navegue a lágrima, chegou às livrarias — meses de trabalho e de solidão ganharam letras, páginas e uma capa linda, e viraram livro. De muitos lados, queridos leitores manifestaram-se: o primeiro retorno que tive veio de bem longe, uma leitora lá da Califórnia, uma gaúcha que vive nos States, me escreveu dizendo das suas impressões. Ela gostou muito — e eu, aqui do outro lado, o rosto colado no computador, suspirei de alívio e de alegria. Depois dela, outros. Sinais que me chegam de vários cantos, frases curtas, longos parágrafos — a minha garrafa de náufrago, atirada às ondas, alcançou o seu destino, os seus muitos destinos. Porque um escritor escreve para ser lido, assim como um personagem só vive na imaginação do seu leitor e, enquanto revisitado, enquanto reimaginado, será eterno.
Estou aqui na minha praia deserta, solta das amarras de Navegue a lágrima, pois aqueles personagens ganharam a sua própria vida. Outra história há de nascer, e outra, e outra ainda. O meu barquinho quer navegar para sempre no oceano das histórias.
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