Está bem, confesso: fui com uma amiga numa cartomante. Fui porque, sei lá, e se a cartomante me diz que… enfim, fui.
Já na chegada, a sala de espera me assusta. As sessões acontecem na casa da mulher, e ela adora cachorros e gatos, tem vários. Minha amiga entra primeiro, e eu, que esqueci meu livro, estou louca para fazer pipi e com o celular a 20% de bateria, tento me ocupar de algum modo.
Depois de dar uma espiada na sala, começo a torcer que o olho da mulher para o futuro seja melhor do que para a limpeza. Tudo está coberto de pó e de pelos. Sou alérgica, mas me controlo. Surge um gato muito simpático que começa a passar as suas unhas amorosamente na minha camiseta de algodão peruano. Mando o gato embora, uma, duas vezes, mas ele parece muito interessado no algodão peruano — eu sei, é macio mesmo. Faço caretas para enxotá-lo, ele desiste e some. Fico ali pensando nas mil maneiras de limpar aquela imundície — álcool, saponáceo, um balde com água e desinfetante… Sinto alguma coisa me puxando para baixo e não é a gravidade: quando olho, o gato estava todo este tempo sob o sofá, comendo alguns elos da corrente da minha bolsa. Uso a minha parca capacidade de enxotá-lo fazendo caretas ridículas, e o gato finalmente se cansa, desaparecendo atrás de um bolo de sujeira.
E então, quando surge um pequinês vivamente disposto a me morder, é a minha vez de entrar na sala de consulta. A decoração é bem eclética: nas paredes, Buda, Iemanjá e o Papa João Paulo II me recebem. A cartomante então me diz: “Abra este livrinho e leia uma mensagem em voz alta.” E eu abro e leio um texto onde os sujeitos são separados do verbo por vírgulas, e alguns erros de concordância me deprimem mais do que o gato e o cachorro furioso. Já comecei a espirrar lá fora, aqui a coisa aumenta, enquanto a cartomante corta as cartas, fazendo-me perguntas discretas e pontuais, que eu não respondo. Eu também sei construir enredos, tenho vontade de dizer, mas não digo. Não digo nada. Nem ela, nada que preste, e a consulta termina em vinte tediosos minutos. Saio de lá com o aviso premente de que vou cair um baita tombo. Por enquanto, caí mesmo foi no conto da cartomante. Me despeço sem muito papo e saio com vontade de sugerir que ela use o dinheiro que paguei (que pagamos, pois fui com uma amiga) para chamar uma faxineira com urgência.
E então vou-me embora (tomando cuidado para não cair na calçada cheia de falhas). Bem feito para mim, penso eu. Tanto trabalho me esperando lá em casa! Na volta, minha amiga e eu nos matamos de rir. E então lembro de Churchill, que disse: “É um erro tentar ver muito longe no futuro. A corrente do destino somente pode ser puxada um elo por vez.“ Sábio mesmo era o gato, que tentou me avisar o tempo todo!
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