Bastidores

Dia de fã ou “A primeira senha é minha”

12 / maio / 2015

Por Heloiza Daou*
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Em setembro do ano passado, estava saindo de férias e já tinha separado a última semana para visitar a Feira de Frankfurt, principal feira literária do mundo que acontece na Alemanha. Queria ver o movimento, entender um pouco como alguns processos funcionam e olhar “as modas”. Comentei isso com meu chefe e ele, sabendo que sou apaixonada pelo David Nicholls, me perguntou se, já que eu estaria lá, não gostaria de ir a um encontro com o cara durante a feira. “Oi? O quê? O David Nicholls vai estar lá?”

Comecei a tremer desde então. Juntei alguns materiais promocionais que havíamos produzido na época do lançamento de Um dia, peguei meu exemplar da primeira edição todo cheio de post-its e de marcações e joguei na mala. Tentei não criar muita expectativa. Vai que surge algum problema, alguém precisa ir no meu lugar, ele não vai, enfim… TENTEI DE VERDADE não criar expectativas.

David Nicholls e o jornalista alemão Jörg Thadeusz logo no início do encontro. A foto não está muito boa, mas foi uma das poucas que não ficou tremida demais, acreditem. :)

David Nicholls e o jornalista alemão Jörg Thadeusz logo no início do encontro. A foto não está muito boa, mas foi uma das poucas que não ficou tremida demais, acreditem. 🙂

O evento foi um bate-papo entre o autor e um jornalista sobre Nós, o mais recente romance de Nicholls, que estava sendo lançado naquela época na Alemanha. O escritor falou sobre seu processo criativo e a pressão de um livro novo após tanto sucesso. Contou também que, antes de Nós, entregou outra história para sua editora em Londres — e a resposta foi de que não era o que eles esperavam. David Nicholls assumiu que o livro estava realmente ruim e recomeçou até encontrar o enredo do novo romance.

Em Nós, acompanhamos uma família em um grand tour pela Europa (David contou que usou muito de sua experiência durante as viagens de divulgação de Um dia para o romance). A relação entre os três personagens — pai, mãe e filho — é muito difícil e, a partir do inesperado pedido de divórcio de Connie ao marido, Douglas, a história se desenvolve.

Durante o evento, me dividi entre prestar atenção ao novo enredo e/ou segurar minha ansiedade para o final. Não estava vendo ninguém com livros nas mãos, fiquei pensando que seria a única a ir chorar um autógrafo. Quando o bate-papo terminou uma pequena fila se formou, todos com seus exemplares alemães, é claro. Tremi que nem vara verde, entreguei a bolsa, um exemplar da edição da Intrínseca e disse quem eu era (daquele jeito). Conversamos rapidamente e pedi para ele autografar o meu exemplar da primeira edição. Estava extasiada. Dei lugar ao próximo da fila e fui respirar na antessala do espaço de eventos. Fiquei mais uns quinze minutos por lá. Sabia que estava muito feliz, mas fiquei tentando entender melhor o que estava acontecendo.

Momento pegando autógrafo: a louca foi chegando perto, segurou o botão do infinito de fotos do telefone e terminou com VÁRIAS escuras e borradas. :P

Momento pegando autógrafo: a louca foi chegando perto, segurou o botão do infinito de fotos do telefone e terminou com VÁRIAS escuras e borradas. 😛

Encontrar e conhecer David Nicholls me trouxe de volta aquele sentimento bom e inexplicável, que sintetiza por que escolhi trabalhar com livros. Na loucura do dia a dia, as coisas ficam frias, entram no automático: próximo lançamento –> reunião –> planejamento –> briefing –> produção –> rua. A gente acaba esquecendo que é leitor, que ama ler e que tem ídolos. Naquele outubro em Frankfurt, no meio da Europa, em um evento que não estava sendo organizado por mim, com um dos autores de que mais gosto, me recoloquei no lugar exclusivo — e sensacional — do fã. E tudo fez sentido de novo. O comichão do nervoso, o sorriso no rosto e a timidez que me tomaram por completo me lembraram por que escolhi o mercado editorial. Escolhi porque sou leitora, pronto. E, caramba, como é legal encontrar, conhecer e conversar com alguém que escreveu histórias capazes de mudar a nossa.

link-externoLeia um trecho de Nós

Este ano, os apaixonados por David Nicholls no Brasil terão a oportunidade de também passar por esse momento bacana. Semana passada divulgamos a vinda dele para a Bienal Internacional do Livro Rio, que acontece entre os dias 3 e 13 de setembro. Como fã número um já estou com bastante ciúme de todos vocês, humanos e brasileiros. Afinal, como Doug diz em Nós: “Se você ama alguém, deve libertar esta pessoa. Bem, isso não passa de um disparate. Se você ama alguém, se prende a esta pessoa com pesadas correntes de metal.” Gostar e admirar têm esse quê irracional mesmo. Prometo melhorar para dividirmos essa experiência juntos e trocarmos nossas impressões sobre como David Nicholls é genial, simpático e incrível.

P.S. Se você é fã e está apreensivo, com a expectativa lá em cima para Nós  — confesso que também estava antes de ler —, posso assegurar que o novo livro está longe, muito longe mesmo de decepcionar. David Nicholls fala com propriedade de assuntos e situações que a gente já viveu ou pode viver a qualquer momento. Parece que conhecemos os protagonistas, que eles existem e que podemos encontrá-los ao virar a esquina. O autor nos relembra o quanto é importante nos dedicarmos aos relacionamentos, mesmo os com uma semana ou vinte anos de duração. Muito mais que um romance sobre um casal, uma família e relações pessoais, Nós é um tratado sobre a força da individualidade e de como, às vezes, podemos tomar decisões aparentemente egoístas mas que, no fim, dizem respeito a todos que nos importam e nos cercam. Uma escrita madura sobre amor, paciência e o cultivo do cuidado diário ao tentar separar o que dizemos sentir do que nos move de verdade.

 

Heloiza Daou é gerente de marketing da Intrínseca e apaixonada por viagens, azeitonas e boas histórias, sejam elas de livros, de filmes ou da vida.

Comentários

22 Respostas para “Dia de fã ou “A primeira senha é minha”

  1. POR FAVOR, traz ele pra São Paulo!!!

  2. Adorei ler “A primeira senha e minha”. Parabéns!!!!!!!

  3. POR FAVOR, traz ele pra São Paulo!!!²

  4. Muito feliz por vc ter realizado o sonho de muitos fãs. Gostaria de saber se já tem definida uma possível data dele na Bienal. Pq pessoas, como eu, de outros estados, podem sonhar em se organizar e tentar ir a bienal. OBG

  5. Quando o livro chega nas livrarias de Presudente Prudente? Já estou ansioso !

  6. Quando o livro chega nas livrarias de Presudente Prudente? Já estou ansioso ! Obrigado!

  7. Aquele momento que você se identifica nível: já estou nervosa, já quero a primeira senha e não vou conseguir falar nada! #vemBienal

  8. Oi, Douglas! O livro já está em distribuição. Mas você pode encontrá-lo on-line também!

  9. Oi, Larissa! Tudo certo? A Bienal acontece entre os dias 03 e 13 de setembro. Assim que tivermos a data definida que ele virá, anunciaremos aqui e em nossas redes. 🙂

  10. Adorei esta crônica! Até parece que eu quem a estava escrevendo-a enquanto lia. Vivi E-XA-TA-MEN-TE isso com Paula Pimenta aqui em Recife recentemente. Só lamentei ter sido na Saraiva e não na Cultura o lançamento. 🙂

  11. Por favor, cancelem o comentário anterior e coloquem este pois cometi um erro no outro.
    Adorei esta crônica! Até parece que eu quem a estava escrevendo enquanto lia. Vivi E-XA-TA-MEN-TE isso com Paula Pimenta aqui em Recife recentemente. Só lamentei ter sido na Saraiva e não na Cultura o lançamento. 🙂

  12. Li “Um dia” e fiquei fascinada pelo autor. Corri e comprei “Resposta certa” cheia de expectativas. Me decepcionei tanto que passei longe de “O substituto”. Eu não queria nem saber do que se tratava. Mas agora fiquei curiosa pelo “Nós”. Vou dar uma terceira chance ao David Nicholls. 😀

  13. Andressa Trentini, tb me decepcionei com resposta certa, li e não acreditei q poderia ser do mesmo autor. Porém, ainda não desisti de, o próximo livro será o Substituto e por último Nós.

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