Diário de Isabela Freitas

Por Isabela Freitas

18 / março / 2015

Crédito: Blog Não me poupe

Odeio esquecer o meu fone de ouvido em casa. E não pense que isso não é importante, porque para mim é essencial. Sabe o que acontece? Eu adoro ouvir a conversa das pessoas que estão ao meu redor. Não sei se faço isso devido à minha paixão por escrever sobre comportamento, ou por ser fofoqueira mesmo. Na dúvida, é sempre bom estar com uma música no volume mais alto para não parecer tão intrometida. Mas não hoje…

Assim que entrei no elevador, hoje pela manhã, notei nas duas garotas ao meu lado. Digo garotas porque depois que fiz 20 anos me considero mulher, dá licença? Brincadeira. Acho que me tornei mulher, mulher mesmo, há pouco mais de um ano. Do que eu estava falando mesmo? Ah é, as garotas do elevador. Elas estavam conversando sobre relacionamentos, e, é claro, minha anteninha ficou em pé porque tinha a certeza de que viraria crônica. Ou assunto na minha roda de amigas.

Enquanto uma delas lixava as unhas, a outra reclamava do ex-namorado. Dizia que ele era ótimo, perfeito, tudo que ela queria. Não preciso nem dizer que nessa parte quase entrei no meio do assunto e disse, ué, então por que é ex-namorado? Mas deixei que a garota terminasse de contar, vai que o cara era um serial killer? Ela continuou se lamentando, até que disse a seguinte frase: “Poxa, terminei nosso relacionamento só pra testar os sentimentos dele. Se ele gostasse realmente de mim, viria atrás, né amiga?” Ok. Nessa hora eu já tinha jogado minha dignidade para o ar e estava olhando embasbacada para a amiga como quem dissesse “concorda com isso pra você ver. Concorda!”. Não sei se ela notou meu olhar assassino, mas disse à amiga que não sabia responder. Para falar a verdade, acho que nem estava tão preocupada assim com o conflito amoroso da outra. Suas compridas unhas pareciam muito mais interessantes. Diabos, o 16º andar ainda estava longe e pela ausência de outros botões apertados no painel, elas também estavam indo para lá. Eu iria mesmo até o fim da história. Eu só queria ir ao dentista sem ter que pensar em relacionamentos, será que era tão impossível assim? Bem, era. Porque a garota continuou falando, é claro. Disse que não “entendia” que tipo de amor era aquele que não ia atrás, que não lutava pela garota amada. Disse que o pobre coitado do ex-namorado era a maior decepção da sua vida e que iria odiá-lo pelo resto de seus dias. Décimo andar. A amiga continuava lixando as unhas. A outra continuou se lamentando. E eu? Cerrando os dentes numa tentativa de não dizer tudo aquilo que pensava sobre o elevador, a lixa de unhas e o ex, que de errado não tinha nada. Décimo terceiro andar. Vamos lá, você é forte. Décimo sexto andar. As garotas saíram na minha frente e a última coisa que escutei foi “acho que vou ficar com o Eduardo na frente dele pra ensinar uma lição. É, vou ficar com o Eduardo”. A menina da lixa acenou a cabeça em concordância. Imagino que Eduardo deva ser algum amigo do ex-namorado que vai se ferrar no meio de toda essa história.

O que mais me irritou foi continuar pensando o dia inteiro sobre o que a garota tinha contado. Não sei por que fiquei tão mexida. Então quer dizer que para saber se somos amados verdadeiramente por alguém precisamos terminar o relacionamento? Se correr atrás, te ama. Se não for, pegue o amigo dele. Que técnica incrível! Será que estavam ensinando isso nos colégios? Não, não. Deve ser algum seriado. Só pode ser. Caramba, por um momento senti dó dos homens de hoje em dia. As mulheres passaram anos criticando os homens por serem “todos iguais” e não percebem que estão se autodestruindo aos poucos todas as vezes em que os colocam como principais culpados por tudo o que acontece no relacionamento. Se eles são carinhosos, devem estar escondendo algo. Se são uns estúpidos, estão sendo “como todos os outros”. Mulher não cansa de reclamar, não? Todos nós erramos e somos idiotas em alguma parte de nossas vidas, e eu sou prova viva disso. Já fiz joguinhos de amor, já disse não querendo dizer sim e já classifiquei os homens como “todos iguais”. Verdade seja dita: pura besteira. Todos iguais somos nós, seres humanos, que sempre damos um jeitinho de arrumar problema onde parece estar perfeito demais.

 

Isabela Freitas é autora de Não se iluda, não e de Não se apega, não, o primeiro livro jovem nacional da Intrínseca. Em 2011, começou seu blog, que já soma mais de 130 milhões de visualizações. Estudante de Direito, pretende cursar Jornalismo um dia. Mora com os pais em Juiz de Fora (MG), onde nasceu.

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