Dedicando-se a documentos e livros de ficção, o romancista começa a ter a sua mente povoada por episódios de uma história que nasce do nada.
14 de outubro de 2012 – domingo
Leio, entre outras coisas, o único romance brasileiro contemporâneo do nazismo que faz a sua crítica – Um rio imita o Reno (1939), de Vianna Moog. Livro, portanto, importante, apesar de convencional.
24 de outubro de 2012 – quarta-feira
Um rio imita o Reno é literariamente fraco, com pouca percepção da vida alemã nos anos 1930. É mais dissertativo do que narrativo, verdadeiro crime de lesa-ficção. Mas ajudou um pouco a perceber aquele ambiente. O romance que devo escrever sobre os nazistas está se delineando. Já começo a sonhá-lo. Este é um processo interessante: aos poucos, a história vai se desprendendo do nada, ganhando contornos.
15 de dezembro de 2012 – sábado
Tenho enfim me dedicado intensamente ao romance, com muitas leituras sobre o período. Concluí agora Longe do Reno (1940), de Bayard de Toledo Mercio, caso único na literatura brasileira, um romance-resposta a outro – ao de Vianna Moog. Literariamente, é um livro péssimo, que tenta provar que não havia manifestação racista no Brasil. Valeu o tempo gasto por me apresentar um pouco do cotidiano das colônias.
18 de dezembro de 2012 – terça-feira
Tenho a cena inicial resolvida na cabeça e começo a tomar algumas notas. O primeiro capítulo deve criar no leitor um interesse imorredouro pela história.
25 de dezembro de 2012 – terça-feira
Leio sem entusiasmo O guarda-roupa alemão (1975), de Lausimar Laus. Conheci este relato nos anos 1990 e foi a partir das lembranças desta leitura matinal que comecei a construir a trama de meu romance. Agora, ao voltar ao livro de Lausimar, vejo que ele é bem menor do que minha recordação dele. A memória de um ficcionista é procriativa, não deixa os fatos como eles são. Este livro não influenciará o meu porque só somos verdadeiramente influenciados por nós mesmos.
28 de dezembro de 2012 – sexta-feira
Estudei o relatório do Major Aurélio da Silva Py (1940) sobre o nazismo no Rio Grande do Sul. Em meio a tantas informações irrelevantes, encontro material para deflagrar minha narrativa. O romance vai tomando forma em minha imaginação.
Leia a coluna anterior de “Biografia de um livro”: Os vários começos
Siga-nos