[OS PÁSSAROS DE MOEMA]

Por Pedro Gabriel

3 / fevereiro / 2015

coluna

Moema, para quem nunca ouviu falar, é um bairro paulistano que todo carioca adora. Dá para ir a pé para qualquer lugar. Não precisa de carro para comprar o pão pela manhã. Não precisa de carro para aproveitar o almoço pela tarde. Não precisa de carro para beber o chope pela noite. Para quem gosta de caminhar Moema é quase um poema. Mas só tem um problema: não tem cinema no Shopping Ibirapuera. E quem precisa pagar para ficar estático em uma sala refrigerada para admirar os movimentos de uma tela gigante quando se tem um céu imensurável para contemplar gratuitamente todos os dias?

O céu de Moema é diferente. Não por ser mais azul do que qualquer outro. Mas é um céu que narra histórias diferentes a cada segundo. As nuvens são artistas incríveis: sempre nos surpreendem. Ontem, vi um dragão engolir meus medos. Hoje, talvez nasça uma flor no peito daquele menino que escreve amargurado. As pétalas serão palavras bonitas, eu sei. Amanhã, quem sabe, elas não desenhem a esperança.

O céu de Moema mais se parece com um caminho flutuante, sem acostamento e invisível, desenhado especialmente para guiar as criaturas mais emblemáticas, fascinantes e fantásticas, que passam diariamente por este bairro: os pássaros metálicos. Pássaros que decolam, voam e pousam diariamente em intervalos matemáticos. Feito cegonhas sobrevoando Congonhas. Pássaros que não batem asas, mas apanham tantas histórias nas suas penas. Carregam o peso da humanidade na leveza dos seus corpos de alumínio.

Pareço bobo, toda vez que ouço o som das suas turbinas já me preparo para olhar o infinito. Não enjoo nunca. Me sinto novamente menino, quando rasgava pedaços de jornal e fazia pequenos aviões. Aviões que decolavam com a única tecnologia que a infância é capaz de produzir: a imaginação.

Pedro Gabriel nasceu em N’Djamena, capital do Chade, em 1984. Filho de pai suíço e mãe brasileira, chegou ao Brasil aos 12 anos — e até os 13 não formulava uma frase completa em português. A partir da dificuldade na adaptação à língua portuguesa, que lhe exigiu muita observação tanto dos sons quanto da grafia das palavras, Pedro desenvolveu talento e sensibilidade raros para brincar com as letras. É formado em publicidade e propaganda pela ESPM-RJ e autor de Eu me chamo Antônio Segundo – Eu me chamo Antônio e Ilustre Poesia.

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Comentários

3 Respostas para “[OS PÁSSAROS DE MOEMA]

  1. Perfeito! Perfeito! Descreveu lindamente ppmeu sentimento ao olhar para esse passarinho que não bate asas, é mais linda criação do homem.

  2. “As nuvens são artistas incríveis: sempre nos surpreendem.” Feito elas é você nos surpreendendo a cada terça feira, que por sinal, passou a ser meu dia favorito da semana. Sou muito amores por tudo que você escreve, sério.

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