As pessoas odeiam muito. Odeiam demais. Eu sei, estamos vivendo tempos difíceis. A Petrobrás está indo para o beleléu, as nossas contas mensais estão indo para o céu.
Ler as notícias, hoje em dia, dá ódio na gente. Fomos rebaixados, sequestrados, vulgarizados, esquecidos, enganados, intimados a pagar a conta, financiados por ditadores e roubados por políticos. Mas, por favor, precisamos nos controlar. Precisamos fazer alguma coisa produtiva com esse ódio todo pingando na nossa vida cotidiana feito infiltração, nem que seja um passaporte para uma viagem sem volta: quem sabe lá na quietude das ilhas Maurício o ódio vá diminuindo, diminuindo? Sei lá. Não sei se eles têm corrupção nas ilhas Maurício, se têm desvios bilionários, se têm água potável, sem têm transporte público decente, atendimento médico e bons salários para os professores. Só sei que eu não quero morar nas ilhas Maurício…
No Uruguai eu moraria feliz, a terra do meu amigo Mauricio Rosencof — uma pessoa em cujo coração só existe luz e poesia, embora o destino e a história política tenham lhe subtraído doze anos de existência da forma mais hedionda e cruel possível. Você aí de dedo em riste, falando alto, xingando o cara do carro em frente, em vez de odiar, pesquise a vida do meu amigo Mauricio Ronsecof — eu não vou contar aqui, não… Você aí, leia os livros dele (leia os livros no congestionamento, no ônibus lotado e quente, na fila da Receita Federal, à espera do carro-pipa, mas leia). A gente aprende mais com o Mauricio Rosencof do que lendo as manchetes políticas e econômicas desse nosso país — e odeia menos.
De tanto odiar, estamos ficando vulgares, tristes, cinzentos. Estamos nos transformando em pessoas intolerantes: dedos em riste, mãos nas buzinas, carros nas vagas para deficientes. Estamos odiando o cidadão ao lado, o vizinho de cima, a moça grávida, o colega de trabalho, o senhor na faixa de pedestres. Odiar tanto assim faz mal pra saúde, mas o ministério, ah, o ministério não adverte.
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