De como o romancista é contratado para escrever uma nova obra e isso faz com que ele interrompa o seu trabalho como colunista de um jornal.
1º. de março de 2012 – quinta-feira
A editora Intrínseca me procurou. Quer me contratar para que eu escreva um romance que se passe na Era Vargas. Seria o começo de seu catálogo nacional.
7 de março de 2012 – quarta-feira
Estive hoje na Intrínseca, numa reunião que foi muito boa. Adiantamos bem a negociação do projeto.
17 de maio de 2012 – quinta-feira
O novo romance começa a andar. Lentamente ainda, embora eu goste de começos acelerados, com muito entusiasmo. Os compromissos consomem as minhas energias e eu tendo a me render às tarefas.
Um romance é sempre uma afronta ao mundo tributável. Impõe-se contra as obrigações.
28 de maio de 2012 – segunda-feira
Chegaram os primeiros documentos sobre os nazistas no sul do Brasil. Uma pressão a mais – ver os livros que devo ler para escrever o romance justo quando menos tempo tenho.
6 de junho de 2012 – quarta-feira
Dedico-me à leitura do material sobre os nazistas. Estes episódios reais conduzirão minha imaginação à história que quer ser escrita. Acredito que tudo que escrevemos já exista no campo das virtualidades. Desejo chegar logo a este romance que me espera. Tomo nota, listo cenas, imagino enredos.
Ler livros sobre um período é uma forma de se fazer pertencer a ele.
7 de junho de 2012 – quinta-feira
Terminei a tese de Ana Maria Dietrich sobre o Partido Nazista no Brasil. E comecei outro trabalho dela – Caça às suásticas. Também iniciei a leitura de Os diários de Victor Klemperer. Conhecer melhor o nazismo a partir de um observador culto e sensível que conviveu diretamente com os nazistas permite uma experiência profunda.
A escrita de um romance histórico é uma oportunidade de ler obras que não leríamos em outras circunstâncias.
11 de junho de 2012 – segunda-feira
Os diários de Klemperer são muito envolventes, pela dolorosa verdade que há neles. Sentimos os nazistas ao nosso lado. É necessária esta intimidade para não se escrever uma história que soe falsa.
13 de agosto de 2012 – segunda-feira
Tomei a decisão de parar de fazer crítica literária na Gazeta do Povo (Curitiba), depois de 19 anos de trabalho. Escrevi hoje a carta de despedida para a editora do jornal, explicando: “Desde a contratação do novo romance, passei a não ter mais tempo. Estou hoje numa situação difícil: ou faço a crítica semanal ou faço o romance.” Fim de uma fase.
A vida e suas escolhas. Aguardo o romance.
Tema atual,pelos acontecimentos que presenciamos mundo afora. Bem interessante poder participar da construção de seu novo romance.Gostei de saber as leituras que você está fazendo, no que se refere a questões históricas!!!! Só no aguardo do romance!!! Bom trabalho!!!
Escrever é sempre um prazer. Imagino o caminho percorrido pelas pesquisas, as noites sem dormir, os momentos de desânimo e o entusiasmo resgatando o tempo. Certamente há de ser um grande romance. Que o processo criativo lhe encante. Sucesso.