Ei, mascarado!
A máscara vira o rosto e coloca o indicador no peito, inclina a cabeça para frente, hesitante. A imagem me causa um certo embrulho no estômago. Ainda não sei se bom ou ruim.
– Sim, você.
A máscara caminha até o meu chapelão. Quase se arrastando em melancolia, chuta serpentinas e confetes que jaziam de ressaca no chão. As cores já pareciam desbotadas com a mistura de lama, areia e cerveja que tinham virado a esta altura do dia. Uma papa carnavalesca. Espero meio congelada vendo aquela cena em câmera lenta. Melhor falar.
– Te vi ano passado, passando pela rua da Aurora, nessa hora, andando sem demora. Não te alcanço por um triz.
A máscara nada diz.
– Toda quarta-feira você é cinza assim?
A máscara faz que sim.
Meu chapelão e eu sentimos por aquela figura misteriosa estranho interesse. Ou seria pena? Não dá para ter certeza em meio a tantas plumas. E cães sem plumas lambendo reflexos nas poças de alguma coisa no chão.
– Por quê?
A máscara dá de ombros e se vai, chutando mais latinhas no chão. Não consigo dizer se foi indiferença o que sentiu por mim. Seria mesmo indiferença? Acho que não.
O som do alumínio na pedra ecoa pelas ruas velhas, na cidade antiga, na linda paisagem para se construir uma cidade. Oh, linda!
O chapelão se acha estranho por achar bonito um rosto que nem viu – ele me diz – quando o tiro da cabeça mesmo com vergonha dos cabelos amassados. Eu entendo.
Nem viu. Me sinto um tanto cinza também agora.
Para onde vão todas essas cores depois da festa?
Do mascarado, só o mistério resta. E se demora.
E, na ponte, uma fresta
que dá para o rio Capibaribe.
Ah, quarta-feira ingrata, chega tão depressa!
Deixa a pressa,
Para o próximo Carnaval.
Quem sabe ano que vem
Não vejo cores de fitas
Que findam finitas
na quarta-feira.
Depois da festa, da fresta, da pressa,
continua, o mistério, sendo
o que interessa.
Eu tiro o meu chapéu.
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