[AGORA POSSO SORRIR NOVAMENTE]

Por Pedro Gabriel

13 / fevereiro / 2015

 Foliã joga confetes em festa de carnaval de 1961 – Foto: Arquivo/AE

Foliã joga confetes em festa de carnaval de 1961 – Foto: Arquivo/AE

Queridos leitores, queridas leitoras,

Pedro foi visto fantasiado de panda ao lado de uma colombina embriagada e de dois bebês quarentões em algum bloco na belíssima cidade do Rio de Janeiro. Por motivos de força menor, hoje quem assume a coluna sou eu. Nada mais justo.

Eu estive presente em praticamente todos os carnavais do mundo. Sempre respeitada e acolhida com muita, mas muita alegria. Alguns dizem que nasci na Itália, no final do século XVII. Mas lá era eu era feita de açúcar. Adoçava a vida de quem ameaçava desfilar amargurado pelos bailes. Outros juram que vi a luz pela primeira vez em Paris, em 1892. Ulalá! Divergências à parte, eu sou a parte mais feliz do carnaval. Já fui, inclusive, exclusiva na elite carioca, no início da febre dos bailes de carnaval. Quando participava dos sofisticados eventos, também conhecidos como Batalhas das Flores, da recém-inaugurada avenida Beira-Mar (1905), no Rio de Janeiro. Com muito orgulho, hoje posso dizer que sou pop. Talvez a figura mais pop da festa mais popular do mundo!

Boa parte do ano vivo esmagada, quase sufocada ao lado das minhas amigas coloridas em um saco plástico. Talvez por isso, em fevereiro ou março, eu exploda de alegria quando resolvem me libertar desse sufoco! Sou uma espécie de garantia estendida de momentos inesquecíveis. Quando a sua felicidade não cabe no seu corpo, querido folião, ela extravasa em mim: nessas múltiplas partículas multicolores que bombardeiam o céu de rosa e amarelo e roxo e azul e verde e laranja. Confesso: fico ainda mais sorridente quando estou ao lado da serpentina. Ela me entende. Somos feitas do mesmo material. Fomos criadas com o mesmo objetivo. Ela é um pouco maior, mais crescidinha. Parece que viveu mais, sabe? Fico feliz. Sinal que alegrou mais gente do que eu até agora. Não há concorrência desleal quando dois destinos nasceram com um único propósito: ter a capacidade de fazer o outro feliz.

Sou jogada pra cima, amassada, e, depois de usada por três dias sem parar, sou abandonada ao lado de um banheiro químico ou de um bueiro aberto ou de uma long neck vazia. Ameaço chorar, mas lembro que é para isso que vim ao mundo. Guardo minhas últimas cores para alegrar a quarta-feira de cinzas e espero, ao vento, alguém me levar para casa. Os dentes de piaçava da vassoura do homem de laranja me fazem cócegas. Agora posso sorrir novamente.

Saudações carnavalescas,

Confete

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Pedro Gabriel nasceu em N’Djamena, capital do Chade, em 1984. Filho de pai suíço e mãe brasileira, chegou ao Brasil aos 12 anos — e até os 13 não formulava uma frase completa em português. A partir da dificuldade na adaptação à língua portuguesa, que lhe exigiu muita observação tanto dos sons quanto da grafia das palavras, Pedro desenvolveu talento e sensibilidade raros para brincar com as letras. É formado em publicidade e propaganda pela ESPM-RJ e autor de Eu me chamo Antônio Segundo – Eu me chamo Antônio e Ilustre Poesia.

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Comentários

2 Respostas para “[AGORA POSSO SORRIR NOVAMENTE]

  1. Amei !
    A descrição do confete foi perfeita !
    E a alegria que ele nos traz, e o quanto nos faz sorrir à toa.

  2. Nossa!!! Será que só eu chorei no fim?
    Vc é espetacular Pedro <3

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