[PROMESSAS PARA DOIS MIL E SEMPRE]

Por Pedro Gabriel

6 / janeiro / 2015

Coluna Pedro Gabriel

Podem soltar mais fogos: a renovação começou oficialmente essa semana! Sim, eu considero o dia 5 de janeiro o primeiro dia útil do novo ano. Não que os outros tenham sido inúteis, mas os primeiros dias do ano seguinte ainda pertencem ao anterior. É fato. Eles ainda tentam se recuperar de uma bela dose de ressaca; eles ainda carregam alguns quilos a mais; eles ainda estão vestidos de branco e amarelo; eles ainda querem saber se Iemanjá aceitou as oferendas; eles ainda se esforçam para entender suas promessas que dificilmente serão cumpridas.

Eu nunca entendi muito bem o dia 31 de dezembro. Eu entendo que todo mundo tem uma promessa a ser cumprida. Eu compreendo que todo mundo tem um pedido a ser realizado. Eu aceito que todo mundo tem uma jura a ser prometida. Eu concordo que todo mundo tem uma meta a ser batida. O que não entra na minha cabeça é por que todo mundo espera o último dia do ano para jurar que essa mesma promessa será realmente cumprida no ano seguinte. Como se o último dia do ano fosse diferente de todos os outros trezentos e sessenta quatro que você vivenciou. Como se aquele dia derradeiro guardasse uma esperança jamais encontrada em nenhuma outra data. Como se aquele último suspiro anual fosse o mais comprido de todos e fosse capaz de te mudar.

A tua mudança é todo dia. Quantas vezes você parou de fumar? Quantas vezes você encontrou um novo amor? Quantas vezes você emagreceu? Quantas vezes você jurou ligar mais vezes para a sua avó para saber se ela está bem? Quantas vezes você ganhou na loteria? Quantas vezes você passou em concurso público? Quantas vezes você prometeu nunca mais morar no Brasil? Todas essas suas promessas são bobagem. São desejos cíclicos. Vícios para a gente se enganar. Enquanto a gente não se mudar por dentro, tudo o que a gente tentar mudar na gente por fora será sempre uma desculpa para confortar nosso fracasso. Lamento informar: as maiores promessas são cumpridas em silêncio.

Por isso esse ano eu não me prometi nada, apenas me desejei algumas palavras. Coragem para enfrentar a vida. Amor para domar o peito. Liberdade para direcionar o destino. Poesia para florescer a delicadeza. E o mais importante: Esperança, para recomeçar caso eu fracasse.

E você, quais palavras gostaria de carregar para dois mil e sempre?

Pedro Gabriel nasceu em N’Djamena, capital do Chade, em 1984. Filho de pai suíço e mãe brasileira, chegou ao Brasil aos 12 anos — e até os 13 não formulava uma frase completa em português. A partir da dificuldade na adaptação à língua portuguesa, que lhe exigiu muita observação tanto dos sons quanto da grafia das palavras, Pedro desenvolveu talento e sensibilidade raros para brincar com as letras. É formado em publicidade e propaganda pela ESPM-RJ e autor de Eu me chamo Antônio Segundo – Eu me chamo Antônio e Ilustre Poesia.

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Comentários

13 Respostas para “[PROMESSAS PARA DOIS MIL E SEMPRE]

  1. Me identifiquei muito com esse texto, muito inspirador, muito inteligente, resumido, é de mais. É por essas e outras que sou muito fã desse cara! 🙂

  2. Que amor esse Pedro! Sou completamente apaixonada ♡

  3. Benditas terças-feira que me faz suspirar com cada texto maravilhoso seu. TE AMO, antonio!

  4. Com certeza, carrego ENTREGA e AMOR, em tudo! Que 2015 me proporcione mais disso e já me sentirei inteira.

  5. Eu escolhi desatar os nós para que possa conjugar nós.
    Seu texto é um belo convite a reflexão como sempre fazendo bom uso da palavra e da nossa língua (Isso incluí vc, Pedro!)
    Não tracei meta como anos anteriores, mas tenho um plano que é viajar p/ um outro país e poder visitar um amigo.
    Que 2015 não passe num piscar de olhos.

  6. Solidariedade para todas as manhãs….. Entusiasmo para as noites …..vida..para ser vivida e conquistadas em todas as datas….2015…Ano de supreaaa é o que espero…..

  7. E eu quero os textos do Pedro Gabriel para dois mil e sempre. Você não tem ideia o quanto os seus textos e poesias mexem com a nossa alma. Obrigada por tanto amor em forma de poesia.

  8. É por essas e outras que sou fã de Pedro Gabriel.
    Mal posso esperar pela próxima coluna

  9. É sempre muito positivo encararmos o final de um ano como um final de um ciclo em nossas vidas. O início de uma nova fase que nos encoraja a evolução. Pena na maioria das vezes as pessoas utilizarem de promessas vazias e egoístas para camuflarem seus defeitos e corrigirem erros que serão novamente cometidos. Erros e defeitos todos temos mas o essencial é sempre buscarmos neles a evolução interior de nós mesmos.

  10. Lindo texto. Amei!!
    Suas obras são incríveis, lindas e muito amada.
    Obrigada por isso ❤

  11. “Por isso esse ano eu não me prometi nada, apenas me desejei algumas palavras. Coragem para enfrentar a vida. Amor para domar o peito. Liberdade para direcionar o destino. Poesia para florescer a delicadeza. E o mais importante: Esperança, para recomeçar caso eu fracasse”.

    Dei valor demais a todo o texto, mas esse trecho ai que citei foi extraordinário. Incrível. Show.

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