O menino sempre ouvia passos no telhado.
– Sempre escuto passos no telhado.
Contou em tom de confidência, por baixo do lençol. Olhava tão misterioso que tive que formular muito bem a minha pergunta. Os mistérios são fujões.
– Eu também. Nunca entendi por quê. Você sabe?
– Sei.
– Eu sempre quis saber…
Ele me olha provavelmente avaliando se sou digna de tal informação. Eu aguardo o julgamento.
– Quando eu era pequeno pensava que os passarinhos estavam gordos. Por isso faziam tanto barulho. Depois comecei a entender as coisas, desvendar a vida e hoje sei que são meus pensamentos invadindo a casa pra entrar em mim. Pelo telhado é mais fácil. Até porque a maioria deles chega sem ser convidado. Isso de dia, claro.
– E quando anoitece?
– À noite são os sonhos chegando de viagem. Eles passam o dia filmando coisas na rua. Quando escurece, colocam um projetor por trás dos meus olhos.
E eu viro um cinema mudo.
Clarice, que texto maravilhoso! Você e o seu poder de transfomar o meu dia através do que escreve! Obrigada e parabéns pelo trabalho maravilhoso.
Perfeito, texto lindo, ela escreve espetacularmente bem. Amei!
ah como você me encanta Clarice, e Essa editora maravilhosa, que tem os melhores autores.. <3
Completamente encantada!!!!