Diário de Isabela Freitas

Por Isabela Freitas

26 / novembro / 2014

amizade 2

Ei, feiosa, como você tá? Esses dias encontrei sua mãe na rua. Ela me disse que estava com saudades e eu muito sumida. Ô, sua tapada, você não contou para ela que não conversa comigo há dois anos? Pois deveria. Você sabe que não consigo mentir e que começo a rir quando tento – mas tudo bem, consegui contornar a situação. Disse a ela que estava sem tempo e que a culpa era toda minha; como sempre, eu e minha mania de assumir a culpa por você. Ela me disse que você estava muito triste ultimamente, que não estava bem nos estudos, que o namorado não estava te fazendo bem e que não sabia mais o que fazer pra te animar. Disse também que você emagreceu alguns quilos e que estava sempre com o olhar vago. Dá pra parar com isso? Tá fazendo greve de fome de novo? Será que você não se lembra de nada que eu te ensinei sobre relacionamentos? A partir do momento em que eles começam a fazer mais mal do que bem, é hora de terminar. Chuta logo a bunda desse babaca que nunca te valorizou. Me perdoe, mas chega a ser engraçado que eu tenha te avisado disso antes mesmo que acontecesse. Eu simplesmente sabia. Você nunca gostou da minha mania de falar o que vem na cabeça, e não foi diferente quando você começou a namorar e eu disse poucas e boas sobre esse cara. Achou que eu estava com inveja e que queria te separar do seu amor verdadeiro. Tudo bem. Eu entendi. Quem precisa de amigas quando se tem um namorado? Bom, todo mundo. Amiga é para sempre, namorado é passageiro. Sem contar que você é uma morena sem sua metade loira, e isso tá errado.

Não sei você, mas mesmo após alguns anos, mesmo após ficar sabendo que você falou mal de mim para todos nossos amigos em comum, mesmo após tanta mágoa e tanta saudade, eu ainda estou aqui por você. Não tenho vergonha de dizer que ainda pego meu celular de madrugada e escrevo mensagens que nunca envio. Te conto como foi o meu dia, as novidades do trabalho, as minhas preocupações com o meu avô, peço conselhos e digo que te amo. Você continua tendo insônia? Eu continuo.

Fiquei sabendo que depois de mim você já teve outras cinco melhores amigas. Tá difícil substituir? Eu sei. Aqui também tá. Ninguém consegue ler os meus pensamentos como você fazia, ou entender que um aperto na mão significa para olhar à volta e descobrir do que estou falando. Eu também não sabia que seria tão difícil encontrar alguém que goste de dançar Spice Girls e de assistir desenhos animados. Às vezes penso em desistir de encontrar uma outra você, porque, no fundo, sei que é impossível. Mas aprendi que a vida segue em frente e que não devemos nos apegar ao passado. Eu só não queria que você fosse passado, sabe? Sempre achei que você seria a madrinha do meu casamento, moraria ao lado da minha casa e seus filhos seriam melhores amigos dos meus. Ainda me lembro como foi difícil aceitar que isso nunca aconteceria. Mesmo que nossos planos tenham ido por água abaixo, não tenha dúvidas de que contarei nossas histórias para meus filhos. Como aquele dia em que fomos embora da festa assim que chegamos só porque seu ficante estava com outra. Tive que te carregar no colo durante um bom tempo – e pior – debaixo de chuva. Você não parava de chorar e de gritar que ia se jogar da ponte. Como era dramática. Só podia ser minha melhor amiga mesmo. Quando chegou em casa olhou dentro dos meus olhos e disse “Um dia nós vamos rir disso, né?”. Verdade. Essa virou uma das nossas histórias preferidas.

Ah, não te contei. Depois que brigamos um montão de gente veio falar mal de você para mim! Mas relaxa, eu te defendi. Acredito que deva ter chegado ao seu ouvido que sempre te elogio quando me perguntam de você, e é irônico, porque você fez exatamente o contrário. Mas tudo bem, você sempre foi meio infantil mesmo.

Queria tanto te contar do meu namorado! Acredita que finalmente após tanto tempo, encontrei alguém que me faça feliz? Acho que você ia gostar dele e se sentir orgulhosa ao notar o quanto estou mudada. Ele apareceu logo depois que te perdi, o que foi muito bom porque eu não sabia o que fazer da vida, estava sem rumo mesmo. Que saco. Queria me livrar dessa mania de querer te contar tudo o que acontece comigo! Só que depois de tantos anos te tendo como minha melhor – e única – ouvinte fica difícil. Mas tudo bem, porque mesmo longe, você tá perto. Tá dentro do meu coração, eternizada. Ainda consigo escutar o barulho da sua risada, a sua voz irritante e sentir o seu perfume. Não fomos amigas para sempre, mas fomos amigas de verdade. Eu sei que fomos.

Então é isso, vou ficar por aqui porque a saudade tá apertando demais e eu prefiro fingir que você não me faz falta alguma. Só quero que você me prometa que vai se cuidar, terminar com esse cara que você chama de namorado, e que – por favor – não destrua mais nenhuma amizade verdadeira que por acaso apareça na sua vida.

Eu? Bem, vou continuar sendo uma orgulhosa que morre de saudades, mas não corre atrás. Porque eu sou assim e você sabe disso.

Queria conseguir te odiar, nem que fosse só um pouquinho. Beijo de quem torce por você, sempre.

p.s. adoro colocar p.s. nas cartas;
p.s.²não vou falar nada de importante aqui porque sei que você adora minhas observações inúteis no fim das cartas;
p.s.³ consigo ouvir o som da sua risada daqui…

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Isabela Freitas é autora de Não se iluda, não e de Não se apega, não, o primeiro livro jovem nacional da Intrínseca. Em 2011, começou seu blog, que já soma mais de 130 milhões de visualizações. Estudante de Direito, pretende cursar Jornalismo um dia. Mora com os pais em Juiz de Fora (MG), onde nasceu.

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Comentários

Uma resposta para “Diário de Isabela Freitas

  1. hehe, fala sério.. tu deve ter adivinha pensamentos kkk.. 11 em casa 10 jovens/adolescentes já passaram por essa mesma situação, em escrever uma “carta” para uma ex-melhor amiga.. hehe
    tu sabe o que faz Isa, melhor.. Tu sabe o que escreve! <3

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