Leticia Wierzchowski

Da primeira leitura e das grandes alegrias

21 / novembro / 2014

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A vida não tem rascunho. Mas, nessa estrada sem volta, a maternidade tem me oferecido a chance de reviver alguns bons e inesquecíveis momentos, senão exatamente como foram, muito parecidos e candentes de emoções delicadíssimas. Aconteceu (de novo) na semana passada. Meu filho caçula, às voltas com um gibi, por incentivo meu, olhou as palavras com um pouquinho mais de atenção e – voilá! – descobriu que já sabia ler!

Há exatos seis anos, quando meu menino mais velho estava com a mesma idade do caçula, ele também descobriu – como uma mágica que, na verdade, é apenas a ponta de um longo processo de aprendizado e compreensão – que sabia ler. Foi num restaurante, com um cardápio. Lembro-me da emoção e da alegria; naquele tempo, eu estava grávida do caçula, carregando em mim a semente, não apenas da criatura, mas destes momentos todos que, desdobrando-se, formam a corrente da vida, de uma nova vida enfeitando a nossa.

Sou uma ávida leitora, e ainda recordo da minha própria euforia no dia em que, na casa azul da praia da minha infância, saí lendo sozinha como um pássaro que, de repente, se descobre voando pelo céu. Com meus meninos, pude reviver esse momento ─ na leitura primeva do mais velho, João, lá estava eu, menina, em algum canto, aplaudindo, vibrando junto aquela conquista e aquela independência ─ porque aprender a ler é como reaprender a falar; um outro e incrível mundo de comunicação e de conhecimento se abre pra gente. E, depois, ainda esta semana, meu Tobias também saiu voando pela estrada das palavras ─ com que orgulho comemoramos aqui este gigante e miraculoso feito! Com que alegria eu, menina ainda uma vez mais, senti a alegria dele como se fosse a minha! O quarto do meu filho é cheio de livros ─ vibramos juntos ali, naquela já não mais ordinária sexta-feira chuvosa, e foi uma festa: Narizinho, Pedrinho, Flicts, Peter Pan, o Pequeno Príncipe, Mônica, Cebolinha, Alice, Garabuja, a Árvore generosa e o seu menino, Senhor Fedor, Vovó Vigarista, Mickey, o Pequeno Nicolau, o Urso com música na barriga, o Menino Maluquinho e tantos outros, incontáveis outros que renasciam ali, mais uma vez, nas leituras de um menino. A vida não tem rascunho, mas tem muitas histórias pra contar!

 

LETICIA WIERZCHOWSKI é autora de Sal, primeiro romance nacional publicado pela Intrínseca, e assina uma coluna aqui no Blog.

Nascida em Porto Alegre, Leticia estreou na literatura aos 26 anos e publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. Um de seus romances mais conhecidos é A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.

Comentários

Uma resposta para “Da primeira leitura e das grandes alegrias

  1. Nossa, que legal partilhar dessa experiência que você acaba de escrever. Quando tiver meus filhos também irei incentivá-los a ler! Forte abraço.

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