Dos amigos

Por Leticia Wierzchowski

10 / outubro / 2014

Coluna 29_Das amizades verdadeiras

Durante a nossa existência, assumimos vários papéis: somos filhos, pais, irmãos, namorados, esposos, netos, vizinhos, colegas de trabalho, amigos. Cada um desses papéis tem as suas maravilhas, as suas idiossincrasias, as suas dificuldades maiores ou menores. Sem esta teia afetiva, sem este invólucro de relações, a nossa vida seria um vazio impensável. E todos estes papéis vão cambiando, numa eterna transformação. Talvez aquele que permaneça mais ou menos intocável ao longo da vida é o papel do amigo.

O que é um amigo na vida da gente?

Boas amizades são raras e eternas. Com o passar dos anos, mudamos, trocamos sonhos, acumulamos histórias, experiências e ensinamentos – com um amigo, somos sempre os mesmos. Amigo não tem idade. Amigo não envelhece. Você pode estar andando de bengala por aí, mas quando encontra aquele velho amigo de infância, passa a ser um pouco criança outra vez. Amigo é um espaço atemporal na vida da gente, é um outro horizonte, um lugar intocado que se recria sempre que há um encontro. Amizade é uma mágica e, como boa mágica, dispensa explicações – ela acontece ou não, ela brota simplesmente, e vinga e cresce e floresce. A boa amizade frutifica, e às vezes os nossos filhos passam a ser amigos dos filhos dos nossos amigos.

A gente descansa num amigo. Ele é como um regaço que nos acolhe, e só de contarmos nossos problemas para um bom amigo, já nos sentimos melhores. Amigo divide fardos, amigo é um bom espelho. A voz de um amigo não cala, ela reverbera dentro de nós, porque, como disse Mário Quintana, a amizade é um tipo de amor que nunca morre. Não morre mesmo – e essa imortalidade confere estranhos poderes. Você pode não ouvir nem o seu terapeuta, mas duvido que ignore o conselho de um bom amigo. Amigos são bengalas. Amigos são asas. Amigos são rios que nos levam adiante.

E estou aqui falando sobre amizade porque ontem, até bem tarde, estive com um grupo de amigas de muitos anos, e mesmo que o tempo passe – estamos já com filhos entrados na adolescência, todas por volta dos quarenta anos –, quando juntas, o tempo parece que dá um nó, e ainda somos um pouco aquelas meninas sentadas na beira da praia, décadas atrás, fazendo planos e sonhando com as maravilhas do futuro.

O futuro chegou sem materializar todos os nossos sonhos – eram tantos! Mas seguimos juntas, porque amigo é um outro tipo de família. Seguimos juntas, corrigindo a vida, puxando as orelhas umas das outras. E rindo, rindo muito. Pois um bom amigo, acima de tudo, é uma boa risada.

 

LETICIA WIERZCHOWSKI é autora de Sal, primeiro romance nacional publicado pela Intrínseca, e assina uma coluna aqui no Blog.

Nascida em Porto Alegre, Leticia estreou na literatura aos 26 anos e publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. Um de seus romances mais conhecidos é A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.

Leticia Wierzchowski nasceu em Porto Alegre e estreou na literatura aos 26 anos. Já publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. É autora de SalNavegue a lágrima e de A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
Leticia escreve às sextas.

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