Pais e filhos

Por Leticia Wierzchowski

20 / agosto / 2014

coluna 22_A maior tarefa do mundo é criar um filho

 

A mais complexa tarefa do mundo é criar um filho, e eu compreendo as pessoas que decidem viver sem gerar descendência. É uma opção coerente e, sem dúvida, sensata. Filho exige tempo, dinheiro e paciência ─ não necessariamente nesta ordem. De amor, então, nem se fala. Um filho precisa de amor assim como uma roseira precisa de sol. Mas, dada a natureza absolutamente doida dessa relação, salvo em raros casos, junto com a maternidade e a paternidade nasce também o amor (assim em negrito mesmo). Um amor sufocante, genuíno, arrebatador. Filho é esperança. Filho é carne viva. Filho é ar fresco. Filho é futuro.

E o futuro de um pai, se a vida andar pela estrada certa, é ser filho dos seus filhos. Mais cedo ou mais tarde, os papéis se invertem, primeiro de modo suave, quase imperceptivelmente ─ a companhia na consulta médica, um conselho, a visita diária no final da tarde para um cafezinho e um bate-papo. Depois, com os anos, as coisas mudam de maneira mais palpável e fundamental ─ muitos pais idosos vão viver com os seus filhos, ou são assistidos de perto, amorosa ou financeiramente, por eles. Os filhos crescidos começam a dar suporte aos seus pais na velhice, fechando um ciclo que pode ser difícil, mas tem a beleza intrínseca da eterna troca de papéis. Afinal, doa a quem doer, vida é transformação. Quem optou por não ter filhos, pode ter a sorte de ser adotado por um sobrinho, pelo filho de um grande amigo, por um pupilo dedicado ─ e, no fundo, é a mesma coisa, tudo aquilo que se dá, um dia volta para a gente.

E nem sei por que pensei nisso, quando eu pretendia mesmo era escrever sobre outra coisa ─ eu que estou exatamente no meio desse caminho, pois ainda sou mãe dos meus filhos pequenos, e filha dos meus pais maduros. Talvez seja somente saudade deles ─ do meu pai e da minha mãe ─ ali em Porto Alegre. E vontade de pedir um colinho, um beijo, um conselho, e ser apenas filha (a Ticia) nem que seja por uma tarde.  🙂

LETICIA WIERZCHOWSKI é autora de Sal, primeiro romance nacional publicado pela Intrínseca, e assina uma coluna aqui no Blog.

Nascida em Porto Alegre, Leticia estreou na literatura aos 26 anos e publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. Um de seus romances mais conhecidos é A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.

Leticia Wierzchowski nasceu em Porto Alegre e estreou na literatura aos 26 anos. Já publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. É autora de SalNavegue a lágrima e de A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
Leticia escreve às sextas.

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