Diário de Isabela Freitas

Por Isabela Freitas

24 / junho / 2014

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Imagine que estranho sair para jantar com uma pessoa e a primeira coisa que vocês fazem é conversar. Olhar nos olhos. Contar as novidades. Reparar no casal sentado na mesa ao lado. Dizer boa-noite ao garçom. Ver as novidades do cardápio. Nada de check in. Ora, pra que falar onde estou? Ninguém precisa saber. Nada de reclamar nas redes sociais que seu pedido está demorando; reclame com a pessoa sentada na sua frente. Quando os pratos finalmente chegarem à mesa, vocês irão saborear a comida sem se importar em tirar uma foto pro Instagram. Afinal, que graça tem mostrar o que estou comendo para os outros? Nenhuma. A pessoa à sua frente será a principal atração da noite. Você só terá olhos para ela, nada mais. Sem mensagens, e-mails, curtidas, fotos com filtros e 140 caracteres.

Imagine então ter um namorado e não se importar nem um pouco em tirar foto para mostrar o quanto vocês são felizes? Vocês não precisam provar nada a ninguém, já está na cara. Nota-se o amor quando se olham, se abraçam forte e se dão beijos demorados. Ele está ali. Nada de frases prontas e beijos de língua para causar inveja a quem quer que esteja vendo, não. Apenas amor, vivido da forma mais simples e pura. Estranho demais.

 Imagine fazer uma viagem e não fotografar cada passo que você dá, não gritar ao mundo onde se encontra e não relatar em miúdos o que está fazendo? Que loucura. Imagine um mundo sem filtros, sem efeitos e sem marcações em fotos. Um mundo onde para se estar em algum lugar não é necessário prova alguma, apenas uma boa companhia que faça desses momentos inesquecíveis. Imagine que insano visitar Paris e não clicar a Torre Eiffel, visitar a Disney e não posar ao lado do Mickey, visitar NY e não aparecer com os braços abertos na Times Square. Pior ainda, ir à praia e não dizer que a vida está difícil, ir à academia sem tirar foto fazendo pose no espelho e ir à balada sem foto para provar que se está muito feliz solteira? Coisa de gente biruta.

Um mundo só de loucos que olham para frente em vez de olhar para telas que brilham, um mundo onde a primeira coisa que se faz ao acordar é olhar como está o dia pela janela e não por uma previsão do tempo, um mundo onde pessoas usam caneta e papel. Que mundo é esse?

Nesse mundo só tem gente estranha, te garanto. Elas não pedem seu número, perguntam sua história. Elas não te julgam por fotos, e sim pelo caráter. Elas se interessam no que você tem a dizer e não em caixinhas pretas que fazem de tudo. Elas guardam memórias e não somente imagens. Elas fazem coisas que realmente querem fazer e não apenas porque dá status. Elas têm no máximo cinco amigos. Que horror. Essas pessoas, quando conversam, olham nos olhos! Sim, elas olham diretamente para você e prestam atenção no que está sendo dito. Que isso! Que absurdo! Elas ainda sabem jogar cartas, xadrez e jogos de tabuleiro. Elas escrevem cartas e esperam por dias ― ansiosas — a resposta. Que besteira, quem ainda faz isso? Elas fazem. Assim como também não dizem em redes sociais onde estão, para onde vão e o que estão fazendo. Elas não postam foto acordando, almoçando, malhando, estudando e nem quando saem com os amigos. Credo. Essas pessoas são realmente estranhas.

Agora me deixe terminar esse texto porque meu celular está apitando.

Isabela Freitas é autora de Não se iluda, não e de Não se apega, não, o primeiro livro jovem nacional da Intrínseca. Em 2011, começou seu blog, que já soma mais de 130 milhões de visualizações. Estudante de Direito, pretende cursar Jornalismo um dia. Mora com os pais em Juiz de Fora (MG), onde nasceu.

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Comentários

Uma resposta para “Diário de Isabela Freitas

  1. Que texto incrível Isabela, ainda não tenho um relacionamento para desfrutar dos momentos estranhos descritos por você… Mas escrever cartas, olhar nos olhos, admirar as manhas ah isso eu amo estranhamente hahahaha. Parabéns, prosperidade e ricas bençãos.

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