Diário de Isabela Freitas

Por Isabela Freitas

20 / junho / 2014

08_Isabela Freitas

As palavras têm um poder muito forte, isso é inegável.

Sempre fui uma menina meio ”rejeitada” pelas outras, desde cedo. Era sempre aquela que entrava em um colégio novo, e causava aversão nas colegas. Não que eu tivesse intenção alguma de fazer com que isso acontecesse, eu não tinha. Eu queria ser amiga de todas, pentear seus cabelos enquanto assistíamos sessão da tarde, ou dividir um pacote de biscoito Mirabel no intervalo do colégio. O que não aconteceu de fato e me levou sempre a procurar refúgio no meio dos garotos. Confesso que, de início foi um pouco chato, mas com o tempo se tornou algo normal. Eu já não me sentia mais tão excluída.

Acho que devo isso em grande parte ao meu jeito fechado, tímido, e mesmo que não transpareça, à minha insegurança. Isso podia ser (e era) mal-interpretado como ‘’eu-me-acho-melhor-do-que-vocês-e-sou-metida”. Coisa que estava longe de acontecer. Então, “ser aceita” nunca foi algo normal na minha vida. Tampouco ouvir elogios e palavras agradáveis das pessoas que me rodeavam. Eu me acostumei com a rejeição, o que pode soar um pouco melancólico, mas é a verdade. Era muito fácil escutar um “sabe aquela menina da sua rua? Disse que te odeia. Não te suporta”. Por outro lado, era raro de escutar um “nossa, antes de te conhecer já te achava uma menina bacana”. Aliás, quem eu quero enganar? Nunca escutei isso na minha vida. Nunquinha. O que escutava era basicamente algo parecido como: “Nossa! Eu tinha uma impressão totalmente errada de você. Agora que te conheço, te adoro’’. E isso era reconfortante. Um pouco…

Depois que criei um blog, fui julgada. Isso mesmo, julgada, como se estivesse em um tribunal e as pessoas avaliassem minha sanidade mental. Fui acusada de ser “inconsequente”, “mentirosa” (pois escrevia sobre histórias inventadas, e isso não entrava na cabeça das pessoas), e ‘’despreocupada’’ com o futuro (já que escrever, e se tornar escritora, seria algo fora do meu alcance). Não me importei. Que as pessoas me julgassem o quanto quisessem. E se aquilo me incomodasse, eu escreveria sobre isso também. As palavras com o tempo foram meu refúgio, e minha cura. Passei a ser lida, aceita e até elogiada. E isso me inundou com um calor gostoso dentro do coração. Era como se finalmente as pessoas pudessem me enxergar além da minha imagem, e pudessem me ler através dos meus textos.

Hoje com meu primeiro livro publicado, sou uma escritora. Ao contrário do que muito julgavam, eu consegui. Para o desespero de alguns, continuo escrevendo. Levo meus pensamentos, problemas, e receios aos meus leitores. E eles me dão carinho, colo, e fazem até cafuné nos meus cabelos. A rejeição deu lugar a uma aceitação enorme, estrondosa. Por meio das palavras, foi possível fazer amigas distantes, de outros lugares do país, e até de outros países.

Minhas amigas são vocês, as pessoas que me leem e se permitem viajar através das minhas palavras e devaneios. E é incrível perceber que o passado não importa nem um pouquinho diante disso. Eu só quero continuar sentindo, e fazer dos meus sentimentos, textos como esse.

Isabela Freitas é autora de Não se iluda, não e de Não se apega, não, o primeiro livro jovem nacional da Intrínseca. Em 2011, começou seu blog, que já soma mais de 130 milhões de visualizações. Estudante de Direito, pretende cursar Jornalismo um dia. Mora com os pais em Juiz de Fora (MG), onde nasceu.

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