O silêncio constrangedor entre os casais geralmente indica que algo não vai bem na relação. No entanto, é difícil perceber que um casamento está em crise quando os dois lados mantêm as aparências – não exatamente quando projetam uma imagem construída de casal perfeito para amigos e familiares, mas quando entre eles existe uma espécie de coreografia, em que cada passo é dado para que o falso equilíbrio seja mantido. No thriller psicológico A mulher silenciosa, a autora, A. S. A. Harrison, descreve com maestria um casamento que atravessa uma forte crise: a esposa, Jodi Brett, descobre um adultério. Seu marido, Todd Gilbert, coleciona, ao longo dos 20 anos em que vivem juntos, algumas pequenas traições, mas desta vez está decidido a viver um romance com a filha de seu melhor amigo, uma estudante que tem a metade de sua idade.

Os capítulos intercalam-se para mostrar as particularidades da esposa e do marido. São descrições generosas que desenham perfis elaborados, permitindo ao leitor a refletir sobre as motivações da cada personagem. Jodi tem 45 anos, é uma psicoterapeuta que atende em casa e tem o privilégio de trabalhar meio período e selecionar seus pacientes. Ela se esforça em preparar os jantares para o marido, manter a elegante casa decorada com flores naturais e permitir que Todd mantenha a sua individualidade, mesmo ciente dos casos extraconjugais. No fundo Jodi finge não se importar e administra os problemas com uma frieza invejável. Empreiteiro bem-sucedido, Todd é um homem com hábitos sofisticados, gosta de falar sobre vinhos, de presentear a esposa sem motivo, frequenta bons restaurantes e aprecia, especialmente, fugir com sua amante Natasha para encontros em hotéis charmosos e confortáveis. Ao contrário do falso desinteresse em devolver na “mesma moeda”, é Jodi quem  utiliza suas habilidades como psicoterapeuta para traçar uma estratégia de vingança.