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Oprah entrevista Ayana Mathis

23 / maio / 2014

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Considerado um dos melhores livros de 2013 pelo The New Tork Times, As doze tribos de Hattie é o emocionante relato da saga de uma família nos Estados Unidos marcados pela segregação racial. A obra foi selecionada pela apresentadora Oprah Winfrey para seu clube do livro, um grupo de discussão de literatura que une milhares de norte-americanos, seja pela televisão ou pelas redes sociais. Oprah deu a notícia da escolha para a autora, Ayana Mathis, por telefone e depois publicou a transcrição do telefonema em seu site. Em uma conversa bastante informal e animada, a apresentadora contou que a história de Hattie e seus descendentes a deixou muito emocionada e quis saber mais sobre a vida de Ayana e como foi o processo de escrita do livro. Traduzimos o bate-papo entre as duas:

 Ayana: Alô?

Oprah: Oi. Ayana?

Ayana: Sim, oi.

Oprah: Oi, aqui é Oprah Winfrey.

Ayana: Hã?

Oprah: É Oprah Winfrey. Estou ligando porque tenho novidades e eu mesma gostaria de dividi-las com você. Amei o seu livro, As doze tribos de Hattie, tanto que o estou escolhendo para o meu clube do livro.

 Ayana: Sério? É mesmo Oprah Winfrey? Não, não é. Isso é uma piada?

Oprah: Não, não é uma piada [risos]. Não é mesmo.

Ayana: Não acredito que meu livro chegou às suas mãos. E que você gostou dele.

 Oprah: Mais do que gostei. Acho que você nasceu para escrever. E agora que estou com você ao telefone, me conte como chegou a esse livro memorável.

 Ayana: Bem, escrevo desde criança, mas nem mesmo nos meus sonhos mais loucos imaginei que poderia sobreviver com isso. Na verdade, passei mais de uma década fazendo de tudo desde trabalhar como garçonete, com pessoas sem-teto até como apuradora de fatos para uma revista antes de ser aceita no Iowa Writer’s Workshop.

 Oprah: É um programa de muito prestígio. A ficha caiu quando você chegou lá?

Ayana: De jeito nenhum. Estava trabalhando em outro livro — que misturava memória e ficção — que era afetado, equivocado e ridículo. Levei-o para o workshop e todos discutiram, mas, ao final, Marilynne Robinson, minha primeira instrutora, disse: “É verdade que os personagens não estão suficientemente inseridos nas situações nas quais você os colocou.”

Oprah: Oh-oh. Isso não parece bom.

Ayana: E não era. Claro que fiquei completamente devastada, mas pensei: “Ok, vou escrever alguns contos de maneira diferente”, sem nunca imaginar que aquelas histórias seriam o início desse romance.

Oprah: Hattie tem 11 filhos e uma neta, Sala. Você já sabia quantas crianças seriam?

Ayana: Tinha a ideia de 12 tribos em mente, mas tive dificuldade em elaborar 12 histórias distintas que fossem significativas o bastante para preencher o romance.

 Oprah: Falando em 12 tribos, o título é uma referência às 12 tribos de Israel?

 Ayana: É, sim. A metáfora é sobre sair de uma prisão para a liberdade, o que tem a ver com a ideia da Grande Migração *.

Oprah: A Grande Migração é quase um outro personagem em seu livro. Você leu The Warmth of Other Sons de Isabel Wilkerson? [livro não publicado no Brasil]

 Ayana: Sim, é incrível. Eu sabia que estava escrevendo sobre a Grande Migração, mas não entendia completamente até alguém me presentear com um exemplar desse livro.

 Oprah: Tenho que lhe contar, não me lembro de ler nada que me emocionasse dessa maneira, além do trabalho da Sra. [Toni] Morrison.

 Ayana: Tenho um altar para ela.

Oprah: Todas nós temos. Fui assombrada pelo livro. Assombrada, assombrada, assombrada. Quando você enviou o manuscrito, foi como se se despedisse dos seus personagens, como se os jogasse no mundo, para o norte, como se fosse a própria migração deles?

Ayana: Foi estranho. Quando enviei, estava vivendo um período de exaustão física e criativa, então não registrei por completo na minha mente. Acho que o sentimento de perda veio durante o período de edição, que só começou cinco meses depois que submeti o manuscrito final. Eu tinha um relacionamento tão diferente com os personagens naquele momento, que foi como um luto. Agora eles parecem próximos de mim novamente, não como se os tivesse inventado, mas como amigos íntimos.

 Oprah: Uau. Bem, você tem uma longa carreira pela frente. Acredito que qualquer um desses personagens poderia ganhar livros próprios. Sério, há muito mais que podemos considerar de cada um deles. Continuo pensando neles como pessoas de verdade. Fico me perguntando: Floyd saiu do armário? Será que um dia vai assumir que é gay? Não, a época não o deixaria fazer isso. O que vai acontecer com ele? Eu me senti assim com cada um dos personagens. Como se fossem pessoas reais. Foi uma honra falar com você, Ayana.

  *A Grande Migração foi um movimento no qual afro-americanos saíram do sul para o norte dos Estados Unidos, fugindo de leis que separavam negros dos brancos  na tentativa de melhorar de vida. A personagem Hattie se muda para a Filadélfia aos 15 anos depois que seu pai é assassinado na Geórgia.

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