Adélia Prado e a tristeza

Por Leticia Wierzchowski

21 / maio / 2014

coluna 10_adelia_pradoEu sou uma grande fã da Adélia Prado ─ seus poemas têm me acompanhado ao longo dos anos, exercendo sobre mim um misto de encantamento e efeito curativo, seus poemas são como o tempo, como a noite, como o mar. A própria Adélia tem duas qualidades que eu considero fundamentais ─ talento e simplicidade. Oh, boa Adélia, que se parece um pouco a minha sogra, que se parece um pouco a minha mãe, que se parece comigo, com você, com todos nós naquilo que a nossa vida tem de mais cotidiana, de mais comum, de mais nitidamente real. Adélia Prado é uma força da natureza. Pois, dia desses, vi a Adélia falando lindamente sobre a tristeza ─ e fiquei matutando no que ela disse, e tanto que agora estou aqui desfiando essas linhazinhas.

“É preciso viver a tristeza, ela faz parte da vida, assim como a alegria”, foi o que ela falou a respeito de si própria, de uma depressão que teve, depressão essa que durou dois anos, durante a qual “Deus lhe tirou a poesia”. Ah, que  belas e duras as palavras de Adélia, que faz poesia até quando não faz, até quando fala.

Hoje em dia, todo mundo tem muito medo da tristeza. Hoje em dia, medica-se a tristeza como se doença ela fosse  ─ a tristeza, quando vem, assim como a dor de cabeça ou a dor de ouvido, é um aviso de que alguma coisa, grande ou pequena, não está bem. Por que é que a gente não escuta mais a nossa tristeza, por que é que temos de calá-la, esta visita inesperada, resmungona, teimosa, antes que ela nos diga, afinal de contas, a que veio? Às vezes, um bom e honesto papo com a tristeza pode nos levar adiante  ─ e o que é a vida, senão um eterno dobrar de esquinas, uma caminhada surpreendente na qual mudam as paisagens, os sonhos e as companhias  ─ encontrar a tristeza numa ruazinha da existência e dar uma ou duas voltas na quadra de mãos dadas com ela pode ser difícil, mas também renovador.

Adélia Prado ficou dois anos vivendo uma depressão que lhe roubou do poema, depois fez as pazes com a alegria e voltou a escrever (para a nossa sorte, amém). Como cantou o Tom Jobim, é melhor ser alegre que ser triste  ─ mas, às vezes, canto eu, é preciso passar por uma coisa para se chegar à outra.

Leticia Wierzchowski é autora de Sal, primeiro romance nacional publicado pela Intrínseca, e assina uma coluna aqui no Blog.

Nascida em Porto Alegre, Leticia estreou na literatura aos 26 anos e publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. Um de seus romances mais conhecidos é A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.

 

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Leticia Wierzchowski nasceu em Porto Alegre e estreou na literatura aos 26 anos. Já publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. É autora de SalNavegue a lágrima e de A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
Leticia escreve às sextas.

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Comentários

4 Respostas para “Adélia Prado e a tristeza

  1. Olá! Sou blogueiro, também, e estou desenvolvendo um blog que apresenta aos leitores de forma simples e objetiva, a obra de Adélia Prado! Escrevo para lhe convidar a fazer uma visita e a conhecer mais a respeito do meu trabalho!

    Um grande abraço e até lá!

    http://apoesiadeadeliaprado.blogspot.com.br/

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