Por que eu prefiro a ficção

Por Leticia Wierzchowski

20 / dezembro / 2013

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As pessoas costumam me perguntar se escrever ficção é difícil. Gente, difícil é a realidade. Quando a gente comete um erro num romance, volta-se atrás em trinta, quarenta páginas, e tudo é corrigido sem danos maiores do que, talvez, algumas noites em claro. A vida real é um problema de dimensões bem maiores: egos, agendas, medos e sonhos, e a gente tem que seguir equilibrando tudo isso como um daqueles garçons super-hábeis que circulam pelo salão com a bandeja tão cheia, que parece a ponto de desabar na cabeça de algum cliente.

Dito isso, não tenho nada contra a vida real. Os amores verdadeiros, a maternidade, as esperas, os aprendizados, as viagens e os erros da vida real são uma baita aventura. Estou aqui e agora, firme e forte. Mas adoro fugir para a ficção, e fujo para ela como quem corre em direção às férias. Por que eu escrevo tudo isto? Porque estou de mudança para o Rio de Janeiro, depois de doze anos morando em Porto Alegre (sou porto-alegrense, mas já dei algumas voltinhas por aí), e mudar dá uma trabalheira danada. Gente, que saudade dos fluxos de pensamento, cenas e sumários!!! Estou aqui cercada de coisas! Coisas, coisas, coisas, coisas… Coisas por todos os lados! Papéis e registros e contas e listas que se multiplicam feito aqueles bichinhos de iogurte (lembram?). Sempre tive nojo daqueles iogurtes caseiros, assim como tenho nojo das listas que ora ocupam a minha mesa sem deixar espaço para os personagens e suas adoráveis manias. Dados cadastrais em penca roubando meu sono. Caixas de papelão nominadas com pincel atômico acumulando-se entre mim e meus pensamentos. Armários com suas bocas escancaradas, prontos para me engolir. Nãooo! Prefiro lidar com as palavras. As palavras moldam-se como argila, são doces e macias e sumarentas, as palavras… As palavras, essas pequenas portas mágicas para o outro lado da vida.

Leticia Wierzchowski é autora de Sal, primeiro romance nacional publicado pela Intrínseca, e assina uma coluna quinzenal aqui no Blog.

Nascida em Porto Alegre, Leticia estreou na literatura aos 26 anos e publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. Um de seus romances mais conhecidos é A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.

Leticia Wierzchowski nasceu em Porto Alegre e estreou na literatura aos 26 anos. Já publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. É autora de SalNavegue a lágrima e de A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
Leticia escreve às sextas.

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Comentários

2 Respostas para “Por que eu prefiro a ficção

  1. Adoro sua ficção e espero que ela permaneça conosco durante muitas e muitas décadas mais. Mas olha, que sem dúvida suas crônicas merecem um livro…. ah, como merecem!

  2. Escritores Gaúchos <3 , sou gaúcho também, estou escrevendo um livro, também de ficção, pois como disse a realidade é difícil kkkkk

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