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O desenhador de palavras

8 / novembro / 2013

Ilustração_artigo_cristinecosta

Por Cristiane Costa*

Eu me chamo Antônio se inscreve numa nova tendência literária chamada visual writing, em que tipografia, desenhos e fotos se integram ao texto. Não são meras ilustrações, como nos acostumamos a ver no passado. A grande inovação é que são parte do texto. Leitores e críticos mais conservadores podem ficar perplexos, mas para as novas gerações está claro que o caminho da inovação literária passa pelo rompimento dessa barreira entre texto e visual.

É um caminho que vem atraindo cada vez mais autores comprometidos com a experimentação literária, como Jonathan Safran Foer, em Extremamente alto & incrivelmente perto, Dave Eggers, em You Shall Know Our Velocity, além de G. H. Sebald em toda a sua obra.

Mas o trabalho de Pedro Gabriel é singular e, de certa forma, radicaliza essa ideia. Não me surpreende o apelo direto que exerce no público jovem. Ele é diferente. Não é apenas um poeta que publica seus textos no Twitter, Instagram ou Facebook. As mídias sociais para ele são muito mais do que uma simples forma de divulgação, tanto que alcança quase 400 mil seguidores, três mil likes a cada post. Essa proposta condensada, fragmentada, altamente visual, que brinca com materiais pouco nobres como os guardanapos que rabiscamos numa mesa de bar, fala diretamente para o sujeito contemporâneo. Ele se identifica com esse universo. Até os arebescos, se repararmos bem, se assemelham à tipografia dos grafites e pichações.

Se retratar sua época é um desafio e tanto para os jovens escritores, mais ainda é para o editor. Poucos têm coragem de enfrentar o desafio. Para começar, qual  porcentagem de fãs virtuais vai migrar para o livro em papel? Isso é uma incógnita quando se trata de autores que são verdadeiros fenômenos da internet como Pedro Gabriel. Como transformar uma literatura born-digital, feita para outro suporte, em algo analógico? Trata-se de um livro de arte ou de literatura?

Pessoalmente, arrisco dizer que será um grande sucesso, um divisor de águas que abrirá as portas para grandes inovações. E que o projeto gráfico criado entra como um terceiro elemento, além do texto e da imagem, enriquecendo ainda mais essa equação.

*Cristiane Costa é pesquisadora em novas estratégias para a mídia digital do Programa Avançado de Cultura Contemporânea, autora de Pena de aluguel: escritores jornalistas no Brasil (Companhia das Letras) e coordenadora do curso de Jornalismo da ECO/UFRJ

Comentários

5 Respostas para “O desenhador de palavras

  1. Tenho acompanhado o trabalho de Pedro Gabriel e fico impressionada com sua arte. Seus guardanapos me encantam…

  2. Continuará com o mesmo sucesso nas vendas de livros. Ele é excelente no que faz. Se os guardanapos fazem sucesso, imagina um livro.

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