A avó no casamento

Por Leticia Wierzchowski

5 / novembro / 2013

 

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Recentemente assisti a um casamento que me emocionou muitíssimo. Sou do tipo que chora: a noiva de branco, o orgulho do noivo, as promessas todas de uma vida de fidelidade e de dedicação – tudo isso é tão tocante, tão delicado e – por que não? – tão raro nesta vida que vivemos. Dedicar a sua vida a outrem, mesmo que às vezes a intenção não se concretize a longo prazo, é um desejo lindo. Neste casamento, lá estava a bela noiva de branco, e lá estava o noivo, feliz e nervoso de doer. Mas o que derreteu o meu coração foi a avó… Do banco onde eu assisti a cerimônia, vi o padre dirigir-se à noiva e perguntar: “Você não queria que alguém subisse ao altar?” Momento de expectativa entre a assistência, e então ouviu-se a voz da noiva ecoando pela nave: “Sim, a minha avó.” Logo, uma elegantíssima senhora, ainda muito bonita, ergueu-se do seu lugar e, com ajuda, foi conduzida ao altar ao lado dos noivos. Neste momento, pétalas de rosa caíram do teto, e lágrimas desceram pelos rostos de muitas pessoas – entre elas, eu.

Desconheço os exatos motivos que fizeram aquela senhora subir ao altar ao lado da sua neta, mas o amor entre as duas foi uma coisa que iluminou a noite. Quanta dedicação, quanto carinho, quantos conselhos, quantas horas aquelas duas – avó e neta – não dividiram? Ser avô é amar alguém com discrição: cabem aos avós um zelo recatado, um amor por tabela. Também dizem por aí que os avós mimam, que os avós estragam, que os avós liberam tudo. Por outro lado, os avós são aqueles que ficam cansados, ou ficam doentes – os avós ensinam aos netos que a vida também pode ser susto e fraqueza, história e herança. Alguns avós passam em brancas nuvens pela vida dos seus netos, porque moram longe, ou porque estão perdidos nas fímbrias da sua própria vida – ser avô não significa dedicação diária como pai ou mãe. Ser avô é a dedicação eletiva.

Aqui em casa, meu marido diz que a melhor parte da sua infância foi a sua avó Nádia. Os sonhos, os banhos de tanque, os pastéis da avó Nádia, a polonesinha de olhos de céu, todas essas lembranças ainda hoje embargam a voz do meu marido. Meu avó Jan foi o primeiro personagem que conheci, e penso que só comecei a escrever por causa dele: Jan era uma história que eu queria contar (e contei). Aquela avó no casamento da Caroline e do Julio entrou para a minha lista dos avós memoráveis. Certamente, ela foi muito além da dedicação eletiva… O que ela fez pela sua neta, isso eu não sei. Mas ficou claro que foi muito e que foi fundamental. Que ela sempre esteve na vida daquela neta, assim como estava no altar naquela noitinha de sábado.

 

*Crônica publicada originalmente no jornal Zero Hora, em 14/10/2013.

Leticia Wierzchowski é autora de Sal, primeiro romance nacional publicado pela Intrínseca, e assina uma coluna quinzenal aqui no Blog.

Nascida em Porto Alegre, Leticia estreou na literatura aos 26 anos e publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. Um de seus romances mais conhecidos é A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.

Leticia Wierzchowski nasceu em Porto Alegre e estreou na literatura aos 26 anos. Já publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. É autora de SalNavegue a lágrima e de A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
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