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O fim do exílio em 1979

16 / agosto / 2013

O sóbrio Museu de Arte Moderna de Estocolmo, de onde partiram os três amigos exilados, na tarde da despedida.

Estava fria aquela tarde de fim de setembro. Tem certeza. Lembra-se de ter mantido as mãos dentro da jaqueta de lã, então estava usando uma jaqueta de lã, enquanto caminhavam. Por onde? Tinham marcado o encontro no Museu de Arte Moderna ou foram caminhando pela beira d’água até tomar a ponte e chegar ali? Pararam junto às esculturas de Calder? Ernesto sempre comentava o contraste entre os grandes móbiles coloridos e o cinza do sóbrio prédio do Moderna Museet na frente do qual estavam plantados. Disso se recorda. E o que mais? O que mais?

A ponte atravessada por Paulo e os amigos naquela tarde.

Expulsos do país sem documentos ou dinheiro, portando apenas um papel com informações de próprio punho contendo nome, filiação, data e local de nascimento, Paulo, personagem de Vidas provisórias, viveu no exílio por quase uma década, tal qual centenas de brasileiros opositores ao governo militar.

Somente em 28 de agosto de 1979, com a promulgação da Lei da Anistia pelo general João Baptista Figueiredo, os brasileiros exilados puderam retornar ao país. Muitos eram tão jovens e estavam tão fragilizados, como Paulo, não conseguiram reconhecer no Brasil, depois da longa ausência, o lugar de onde vieram.

O país de origem desses desterrados existe apenas na memória. Para alguns, o Brasil são as comidas e seus lugares preferidos. Na despedida, um personagem do romance de Edney Silvestre lista os motivos para voltar e traça o mapa boêmio do Rio:

— Croquetes. Coxinhas. Linguiça. Torresmo. Bolinhos de bacalhau. Bolinho de arroz. Pele de porco. Morcela. Paio. Feijoada. Pescadinha com arroz de brócolis. Leitão pururuca. Rabada com agrião. Frango assado. Frango assado com farofa de banana. Frango assado com macarrão. (…) Cachorro-quente da carrocinha do Geneal. Bife à parmegiana no restaurante Kaiser, da rua São Clemente. Filé à Oswaldo Aranha no Lamas, no Largo do Machado. Quibe da Galeria Condor, ali perto. Chope do Amarelinho, na Cinelândia. Empadinha de palmito na Casa Cavé, na esquina da rua Uruguaiana com Sete de Setembro, perto da Livraria Civilização Brasileira. Viradinho à paulista no pé-sujo sem nome da rua Sacadura Cabral. Salsichão com mostarda preta e salada de batata do Bar Luiz, na rua da Carioca.

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