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A Bling Ring, por Sofia Coppola

4 / julho / 2013

Sofia Coppola e o elenco de Bling Ring: a gangue de Hollywood na première em Cannes. Crédito: Regis Duvignau/Reuters

Em 2010, a jornalista Nancy Jo Sales recebeu um recado ao chegar ao escritório: Sofia Coppola estava interessada em comprar os direitos de filmagem de sua reportagem “The Suspects Wore Loubotins” [Os suspeitos usavam Loboutin], publicada na revista Vanity Fair. Intrigada, Nancy reviu os filmes da cineasta e teve certeza de que “o caso de uma gangue de adolescentes obcecados pela fama que tinham roubado as casas de famosos era para Sofia Coppola o que uma boa história de terror era para Hitchcock.”

A história real dos garotos de Los Angeles que furtaram cerca de três milhões de dólares em roupas, joias e peças de arte de jovens ícones pop como Paris Hilton, Lindsay Lohan e Orlando Bloom chega às livrarias brasileiras em 13 de julho. A versão de Sofia Coppola, estrelada por Emma Watson, Katie Chang, Israel Broussard e Leslie Mann, estreia em 16 de agosto nos cinemas, com distribuição da Diamond Filmes Brasil.

Para Nancy, a história que ela retrata no minucioso livro-reportagem Bling Ring: a gangue de Hollywood contém temas recorrentes na obra da cineasta, como narcisismo, a obsessão com celebridades, a arrogância dos jovens ricos e o vazio que cerca a fama.

Em seu primeiro longa-metragem, As virgens suicidas (1999), baseado no romance de Jeffrey Eugenides, as protagonistas de Coppola são cinco irmãs com tendências suicidas que são objeto de adoração dos garotos da vizinhança. Sua Maria Antonieta (2010) é uma adolescente mimada, irresponsável e festeira. A constatação do vazio e da falta de sentido na fama também compõe as reflexões dos personagens interpretados por Bill Murray em Encontros e desencontros (2004) — vencedor do Oscar de melhor roteiro original — e por Stephen Dorff em Um lugar qualquer (2010).


Esses temas também são caros a Nancy Jo Sales, que escreve sobre as desventuras de jovens ricos desde 1996. A partir de uma reportagem sobre uma gangue formada por estudantes de escolas particulares em Nova York, ela diz que acabou “enveredando por esse filão, que me conduziu a histórias sobre jovens baladeiros, modelos, socialites, DJs e garotos ricos apaixonados. Ao mesmo tempo, eu escrevia perfis exatamente sobre as mesmas pessoas que esses garotos e garotas — loucos por fama — desejavam ser: Puffy, J-Lo, Tyra, Leo, Jay-Z e Angelina, assim como duas das famosas vítimas da Bling Ring, Hilton e Lohan. (Fui autora da primeira matéria de revista sobre Hilton, para a Vanity Fair, em 2000)”.

Reproduzimos abaixo um trecho de Bling Ring: a gangue de Hollywood em que Nancy Jo Sales se encontra, pela primeira vez, com Sofia Coppola. Na entrevista a cineasta, que cresceu cercada por celebridades, explica seu fascínio por essa história.

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Encontrei Sofia pela primeira vez num café do Soho, o bairro nova-iorquino onde na época ela morava com o marido, Thomas Mars, vocalista da banda francesa de rock alternativo Phoenix, e sua filha Romy, de três anos. Sofia estava grávida da segunda filha (Cosima, que viria a nascer em maio de 2010) e dava os últimos retoques na sala de edição em seu filme Um lugar qualquer. Era um dia quente, ensolarado, e Sofia, num vestido lilás de algodão, estava linda, com seus olhos castanhos amendoados e pele sedosa. Sua voz era tranquila e suave, e seu jeito sonhador de algum modo me fez lembrar a delicadeza expressa em seus filmes. Sentamos numa mesa nos fundos do restaurante e tomamos um café da manhã, chá para ela, café para mim. Perguntei o que a interessara na reportagem a respeito da Bling Ring, que ela disse ter lido num voo entre Los Angeles e Nova York.

— Pensei “alguém devia fazer um filme sobre isso” — contou ela. — E pensei que provavelmente alguém já estaria fazendo. Nunca me passou pela cabeça que aquilo era algo que eu pudesse vir a fazer. Então, volta e meia tornava a pensar no assunto, talvez porque a história abordava todas essas coisas na nossa cultura com que tenho me preocupado ou sobre as quais venho pensando. Não sei se “microcosmo” seria a palavra certa, porém de algum modo ela destila toda a angústia cultural dos dias de hoje. Sinto como se essa história de certa forma resumisse tudo isso.

“Para mim é toda a ideia em torno do narcisismo e dos reality shows da TV e da obsessão com as redes sociais, tudo pelo qual os jovens dessa geração se mostram obcecados — seguiu ela — e do modo como são mimados. Eles — os garotos da Bling Ring — não viam problema em entrar naquelas casas e pegar o que quisessem. Penso que todos esses temas estão presentes nessa história, e foi isso que me atraiu nela antes mesmo de me dar conta. Acho que algo sobre o que a nossa cultura é hoje, é tão diferente da época em que eu era jovem…”

Nancy Jo Sales por Jayne Wexler

Sofia cresceu em Napa Valley, para onde seu pai, Francis Ford Coppola, o diretor de O poderoso chefão (1972), se mudou com a família ao deixar Nova York nos anos 1970.

— Sempre soube que atraíamos atenção e que essa atenção era toda por causa dele — contou sorrindo, quando lhe perguntei se na infância ela percebia que seu pai era uma pessoa famosa. — Mas vivíamos em Napa, onde não mora muita gente ligada ao show business, de modo que lá éramos “o pessoal de Hollywood”. Acho que isso deve ter contribuído para o fato de me sentir sempre atraída por esse mundo alternativo, esse metamundo, das pessoas que vivem com algum tipo de fama.

Sofia foi criada num lar cheio de celebridades que, para ela, não eram celebridades — eram apenas sua família. Sofia não seria Sofia se não tivesse crescido entre cineastas. Sua mãe, Eleanor Coppola, é diretora de documentários; seu irmão, Roman Coppola, é roteirista e diretor; sua tia Talia Shire e os primos Jason Schwartzman e Nicolas Cage são atores; e seu avô, Carmine Coppola, foi compositor de trilhas sonoras premiado com um Oscar. (Seu irmão mais velho, Gio, que despontava como um cineasta promissor, morreu num acidente de lancha em 1985.)

Os amigos de seus pais eram cineastas e escritores, atores e artistas. Uma de suas primeiras lembranças é a de estar sentada no colo de Andy Warhol. Marlon Brando, Werner Herzog, Steven Spielberg e George Lucas eram convidados habituais nos jantares na casa da família. O tom era ditado pelo pai italiano, que se mostrava caloroso e acolhedor, de modo que as crianças sempre ouviam adultos falarem sobre produção cinematográfica.

— Acho que estava aprendendo muito sobre todas essas coisas, porém meio que sem me dar conta disso — disse Sofia.

E quando ela e o resto da família acompanhavam o pai nas locações — eles passaram meses nas Filipinas durante as filmagens de Apocalypse Now (1979) — ela via em primeira mão como se fazia cinema. (Sua mãe codirigiu o inesquecível documentário Francis Ford Coppola — O apocalipse de um cineasta, de 1991, no qual aparece a pequena Sofia.)

— Quando era menina, para mim aquilo era apenas entrar num helicóptero e voar sobre a floresta — disse Sofia.

Na adolescência ela ficou fascinada pelo mundo da moda; aos quinze anos, estagiou na Chanel.

— Quando eu era pequena, ninguém da minha idade tinha bolsas de grife — lembrou ela. — Na escola não havia toda essa obsessão pela marca. O assunto não era tanto uma norma cultural naquela época. Eu me lembro de ir a desfiles de moda e nunca ver celebridades na primeira fila. Agora as celebridades dão seus nomes a linhas de roupas, e até Alexis [Neiers] — diz, referindo-se a um dos arrombadores da Bling Ring — também quer ser uma estilista.

Vários outros jovens da quadrilha queriam o mesmo. À medida que fui conhecendo Sofia, me chamou a atenção o fato de que ela também nutria algumas das aspirações daqueles jovens da Bling Ring — a diferença, é claro, é que ela era o artigo legítimo, a It Girl que eles desejavam ser. Depois de deixar o Instituto de Artes da Califórnia, onde estudou fotografia e design de moda, ela deu início à sua própria linha de roupas, a Milkfed, que ainda é vendida exclusivamente no Japão.

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Assista ao trailer de Bling Ring: a gangue de Hollywood:

 Ouça a trilha sonora de Bling Ring: A gangue de Hollywood

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