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A Ascensão das livrarias, por Ann Pachett

24 / maio / 2013

Ann Patchett é autora premiada de cinco romances, entre eles Estado de graça e Bel Canto — vencedor do Prêmio Orange e do PEN/Faulkner Award em 2012 —, que será lançado no Brasil em 8 de junho. Quando a última livraria de sua cidade natal, Nashville, Tennessee, encerrou as atividades, Patchett fundou com sócia Karen Hayes uma livraria independente usando recursos próprios, a Parnassus Books. Para ela, uma livraria não é apenas o lugar em que se vai para comprar livros, mas um ponto de encontro da comunidade.

A seguir, reproduzimos o artigo Rise of the Bookshops, extraído de The Bookshop Strikes Back, publicado pela Bloomsbury em comemoração à Semana dos Livreiros Independentes de 2013.

A ascensão das livrarias, por Ann Pachett

Os livreiros não guardam os seus melhores segredos: eles formam uma tribo generosa e prontamente me acolheram em sua confraria e me deram conselhos. Disseram-me para pendurar o material promocional no teto sempre que possível, porque as pessoas almejam comprar qualquer coisa que, para ser destacada, necessite de uma escada. A seção das crianças deve sempre ficar em um canto nos fundos da loja, de forma que os pais, quando inevitavelmente começarem a passear pelo espaço ou a ler algo, possam segurar os filhos antes que eles disparem loja afora. Recebi conselhos sobre armazenamento de livros, e bonificações, e recomendações sobre funcionários e sites.

Enquanto eu me deslocava de uma cidade para outra, Karen [Hayes] viajava pelo sul do país em uma caminhonete de mudança, comprando estantes baratas em diversas lojas da cadeia Borders, que estava em liquidação. Antes de partir, eu tinha preenchido um cheque de 150 mil dólares, e sempre perguntava a ela se precisava de mais dinheiro. Não, ela não precisava de mais dinheiro.

No fim do verão, Karen e eu finalmente nos estabelecemos em um antigo salão de bronzeamento artificial que ficava a poucos metros de uma loja de donuts e ao lado de um local que vendia produtos de manicure. Diferentemente dos administradores de imóveis que havíamos encontrado no início de nossa busca, a pessoa responsável pela locação do espaço era um budista com tino comercial que sentia que uma livraria ia conferir classe a seu pequeno conjunto de lojas dispostas em L e que, com olho nesse objetivo, estava disposto a pagar para retirarem o assoalho de cerâmica. O espaço era comprido e fundo, com um pé-direito alto demais para que pudéssemos sequer sonhar em pendurar alguma coisa. As camas de bronzeamento foram retiradas, mas o cartaz em cima da porta ficou lá por um tempo ridiculamente longo. Viajei para a Austrália em outra turnê de divulgação do meu livro, deixando todo o trabalho a cargo de Karen.

Na Austrália, o único assunto sobre o qual as pessoas queriam falar era a livraria. Jornalistas ligavam da Alemanha e da Índia para perguntar sobre a livraria. Toda entrevista começava da mesma maneira: Eu não tinha ouvido as novidades? Ninguém tinha pensado em me contar? As livrarias estavam acabando. Então, um por um, os entrevistadores relatavam os detalhes de suas livrarias favoritas, e eu escutava. Eles me disseram, confidencialmente e de forma extraoficial, que talvez eu tivesse sucesso.

Eu começava a entender o papel que as entrevistas desempenhariam nesse sucesso. Quando eu estava na casa dos trinta anos, pagava meu aluguel escrevendo para revistas de moda. Considerei a Elle a mais desafiadora delas, porque os editores insistiam em identificar as tendências. Como a maioria das revistas de moda fechava (o jargão da indústria para indicar o momento em que as páginas são enviadas para a gráfica) três meses antes de chegarem às bancas de jornais, a identificação das tendências, principalmente a partir de Nashville, exigia qualidades próximas da clarividência.

No final, percebi o que todo mundo na indústria da moda já sabe: tendência é aquilo que você chama de tendência. Nesta primavera, em Paris, os fashionistas vão usar aquários na cabeça. Em meu quarto de hotel na Austrália, essa percepção me veio mais como uma visão do que como uma recordação. “As livrarias pequenas e independentes estão voltando”, eu disse aos repórteres em Berlim e em Bangladesh.

“Faz parte de uma tendência.” Meu teatro estava montado e, a cada apresentação, eu adaptava o roteiro, pincelando os detalhes enquanto os apregoava para os outros: todas as coisas acontecem em um ciclo, eu explicava. Pequenas livrarias obtiveram êxito e se transformaram em livrarias maiores. Vendo o potencial de lucro, as cadeias de megalivrarias progrediram e esmagaram as independentes; então, a Amazon cresceu e esmagou as megalivrarias. Agora, que podemos encomendar qualquer livro a qualquer hora sem abandonar a tela diante de nós, percebemos o que acabamos perdendo: o local de encontro, a interação humana, a recomendação vinda de um leitor sagaz em vez de um algoritmo de computador nos dizendo o que outros compradores tinham adquirido.

A qualquer pessoa que estivesse me ouvindo, prometi que, a partir dessas cinzas, as livrarias pequenas e independentes iriam ascender de novo. E quanto aos livros digitais?, queriam saber os jornalistas. Como você poderá sobreviver aos livros digitais? E eu respondia: para mim, é importante que as pessoas leiam, e não como leem.

A maioria das livrarias independentes é capaz de vender livros digitais em seus sites, e esses livros digitais podem ser baixados para qualquer leitor digital, com exceção do Kindle, que só funciona com aquisições realizadas pelo site da Amazon. Logo, você pode apoiar uma livraria na sua vizinhança e ainda assim ler um livro em seu iPad. Repita quantas vezes puder e isso será tomado como verdade.

Construa e eles virão. Em Melbourne, participei de uma sessão de leitura com Jonathan Franzen. Perguntei se ele iria à livraria. Lógico, respondeu ele, seria um prazer. No outro lado do mundo, comecei a revirar mentalmente minha caderneta de telefones. Conheço uma porção de escritores.

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