DIÁRIO DE ISABELA FREITAS

Por Isabela Freitas

28 / março / 2013

Adivinha? Apaguei e escrevi esta crônica umas dez vezes. E isso só aconteceu depois de uma injeção de criatividade que me fez escrever por horas um texto que virou um dos meus preferidos. O que isso tem a ver? Bem, o texto era para a minha coluna e eu gostei tanto dele que guardei para o meu livro. Então, o que temos para hoje? Um grande “nada”.

Adoro falar. Falo o tempo todo — sobre tudo e sobre nada. Puxo assunto quando o silêncio domina, pergunto a respeito do tempo no elevador e comento sobre coisas rotineiras e sem importância com minhas colegas do ponto de ônibus. Sou o tipo de pessoa à qual não faltam palavras. Sou feita de conselhos, de opiniões e de respostas. Quer dizer, não por completo…

Às vezes sinto como que se as palavras fugissem do meu alcance, como se dissessem “vai, agora quero ver falar tanto”. Por exemplo, odeio que me elogiem. É sério. E sem essa de que todo mundo adora ganhar elogio, é claro que eu gosto de escutar um elogio, só não sei reagir a eles. Digo “obrigada” e fico parecendo arrogante? Digo “que isso” e faço papel de humilde? Não digo nada e fico parecendo idiota? É, é isto o que eu faço.

E quando alguém que você não espera chega fazendo uma declaração de amor? Há quem saiba despistar e sair pela tangente, mas comigo não é bem assim. Não consigo esboçar um sorriso, dizer uma palavra em agradecimento ou sequer me mover. Meu olhar tem expressão de “nada” e acho que isso quer dizer tudo. Muitas vezes as reações das pessoas, mesmo o silêncio, dizem tudo o que precisamos saber.

Outro dia dei de cara com um amor antigo, daqueles que, por mais que se passem anos, ainda conseguem mexer com a gente. É claro que, na minha imaginação fértil e controladora, iria cumprimentá-lo, dar aquele sorriso e perguntar sobre a vida. Iríamos conversar sobre assuntos aleatórios e eu não daria qualquer pista de que meu coração batia mais forte à medida que ele se aproximava. Mas sabem o que aconteceu?

Ele veio me cumprimentar com um abraço e eu sequer consegui retribuir.

Ele deu um sorriso e eu mal esbocei um.

Ele perguntou como eu estava e o máximo que consegui me forçar a fazer foi encará-lo com um olhar de “nada”.

Ele me olhou com ar de preocupado, como alguém que não acreditava no que via. Deve ter achado que eu estava perturbada, maluca e que toda essa ideia de escrever um livro estava demais para minha cabeça. Que nada, estava sem palavras mesmo! E todas as vezes em que me faltam palavras são momentos em que não as considero suficientes. E eu tinha tanto a dizer, tantos sentimentos a esconder e ao mesmo tempo fingir… Foi exatamente isso que me fez ficar ali, parada por um bom tempo, vendo ele se afastar lentamente. Se pelo menos ele soubesse que o “nada” também pode ser “tudo” e que o meu silêncio cala muito mais do que palavras…

Então, não se espantem ao se depararem com esse tipo de reação. Ela pode expressar a resposta que vocês tanto procuram.

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Isabela Freitas é autora de Não se iluda, não e de Não se apega, não, o primeiro livro jovem nacional da Intrínseca. Em 2011, começou seu blog, que já soma mais de 130 milhões de visualizações. Estudante de Direito, pretende cursar Jornalismo um dia. Mora com os pais em Juiz de Fora (MG), onde nasceu.

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Comentários

16 Respostas para “DIÁRIO DE ISABELA FREITAS

  1. Nossa, que lindo pensamento. Agora eu é que estou sem palavras…

  2. Isabela, parabéns! Que texto simples, leve e carregado de sentimento. Adorei e devo agradecer, afinal, me encontrei em suas palavras. =)

  3. Arrasou, Isa. “É claro que eu gosto de escutar um elogio, só não sei reagir a eles”, muito eu.

  4. Nossa! Amei, me descreve bem, fico totalmente paralisada, não consigo falar nada em certos momento. Não vejo a hora de ler seu livro, Bebela!

  5. Já dizia Freud que podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio, Bebela. Quando se refere ao amor então, seja ele empoeirado ou não, nossas reações são surpreendentes.. ainda bem, produzem lindezas dentro e fora da gente, em textos, crônicas e livros.
    Um beijo menina que saracoteia tão bem com as palavras como também com a falta delas! ;}

  6. Isabela, sou sua fã! Acho que, desde 2011, comecei a ler seu blog assim tipo todo dia. Seus textos me inspiram e a cada dia fico mais curiosa pro “Não se apegue, não”. Já estou contando os dias para o lançamento do livro. Moro bem longe e meio que não sei se vai chegar por aqui. ;/
    Já estou pedindo antecipado teu livro de presente para os meu amigos. kkk Sou do Amapá – Macapá.
    Toda sorte do mundo, visse? Bjs ! “Não se apega, não’ haha

  7. Muitas vezes sou assim também. Só que ao invés de falar muito, falo pouco. Eu gosto de olhar.
    Quando fico muito feliz, por dentro eu estou quase pulando, por fora eu estou no status ”nada”. Principalmente quando recebo elogios.

    Enfim, Isabela Freitas sempre arrasando. Tanto no blog como em qualquer lugar! Boa sorte com o livro, estou ansiosa pra ler!

    Beijo!

  8. LINDO! Isabela, isso é uma característica forte do sagitariano, sou muito assim também e em muito momentos já passei por mal educada por não conseguir falar em voz alta o que a cabeça ou o coração pensava no momento. 🙂 PARABÉNS

  9. Nossaaa, eu me identifico muito com a Isabela, gente! Não é a toa que eu sou sagitariana!

  10. Bela crônica/pensamento, me deixou com a pulga atrás da orelha como diz o ditado. Será que, às vezes, quando recebemos um tudo ele não quer dizer nada, mas ele quer dizer tudo? Resumindo: estamos aí para receber tudo e vários nadas, mas acima de tudo para lutar pelo o que realmente queremos. Parabéns, Isabela!

  11. Lindo texto! Meus olhos encheram de lágrimas. Lembrei de uma situação similar :’)

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