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Google publica novo mapa da Coreia do Norte com campos de prisioneiros

29 / janeiro / 2013

Manchas cinzentas representam os campos de concentração do país. (Foto: Reprodução/Google Maps)

Com informações da France Presse.

O Google publicou novo mapa da Coreia do Norte que atesta a existência dos sinistros campos de concentração escondidos pela dinastia Kim há mais de meio século. Enquanto o governo do país nega a existência de campos de trabalhos forçados para prisioneiros políticos, e diplomatas recusam-se a discutir sobre eles, o Departamento de Estado americano e grupos de direitos humanos estimam que os seis campos existentes no país abriguem nada menos do que duzentos mil prisioneiros.

O novo mapa foi elaborado de forma colaborativa pelos próprios usuários por meio do Google Map Maker e publicado logo após a viagem de Eric Schmidt, presidente executivo da empresa e autor da Intrínseca, ao país. Jayanth Mysore, o diretor do Google Map Maker, escreveu em seu blog: “Durante muito tempo, a Coreia do Norte permaneceu como uma das mais amplas zonas com dados cartográficos limitados. Atualmente, estamos remediando isso.”

Em Fuga do Campo 14, o jornalista Blaine Harden — especialista na cobertura de conflitos políticos na Ásia, na África e no Leste Europeu entrevistou Shin Dong-hyuk, o único norte-coreano nascido e criado em um campo de trabalhos forçados que conseguiu escapar.

Imagem do Campo 14 (Foto: Google Maps)

Imagem do Campo 14 (Foto: Google Maps)

Shin Dong-hyuk viveu 23 anos de sua vida no Campo 14, um dos imensos complexos destinados aos presos políticos em meio às montanhas íngremes da Coreia do Norte. Fundado em 1959, o distrito de controle total para casos considerados irredimíveis abriga cerca de 15 mil prisioneiros, que trabalham de 12 a 15 horas por dia em minas de carvão, fábricas e fazendas, muitas vezes em situações de risco, até encontrarem a morte em execuções sumárias, acidentes de trabalho ou doenças relacionadas à desnutrição.

A primeira lembrança de Shin é de uma execução, testemunhada aos 4 anos. Aos 6 anos, assistiu à morte, por espancamento, de uma colega de classe que havia roubado 5 grãos de milho. Aos 13, foi torturado e presenciou a execução da mãe e do irmão mais velho. No Campo 14, a execução pública — e o medo por ela gerado — é um momento didático. Didáticos também são os “Dez Mandamentos” do local, que prescrevem fuzilamento imediato para qualquer pessoa que tente, ou acoberte, uma fuga, roube comida ou deixe de denunciar qualquer atividade suspeita, por exemplo.

Tolhido pela desnutrição, assim como milhões de habitantes de seu país, Shin é baixo e franzino. Tem mesma idade do gorducho Kim Jong Eun, o terceiro filho de Kim Jong Il que assumiu o governo depois da morte de seu pai em 2011. Os dois corporificam os antípodas de privilégio e privação na Coreia do Norte, uma sociedade pretensamente sem classes onde, na realidade, a criação e a linhagem determinam tudo.

Foi em busca de comida que Shin tramou sua fuga. Em 2005, atravessou as cercas eletrificadas do Campo 14 por cima do corpo inerte do único amigo que fez no local e partiu a pé rumo à fronteira da China. Em 2007, dois anos depois de escapar, estava vivendo na Coreia do Sul. Quatro anos mais tarde, morava no sul da Califórnia e era embaixador sênior da Liberty in North Korea (LiNK— Liberdade na Coreia do Norte), um grupo americano de defesa dos direitos humanos.

Como correspondente em Tóquio para o Washington Post, Blaine Harden conheceu a história de Shin por meio de ativistas de direitos humanos. O encontro, que inicialmente resultou em uma impactante reportagem para o jornal, abriu caminho para as sucessivas entrevistas que deram origem a Fuga do Campo 14, um relato minucioso do cotidiano árido e sem perspectivas dos prisioneiros políticos na Coreia do Norte. O livro traz ainda um capítulo específico sobre as regras do campo, além de mapas e um caderno de desenhos feitos pelo próprio Shin.
Leia um trecho do livro. 

Shin Dong-hyuk e Blaine Harden.

Shin Dong-hyuk e Blaine Harden.

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Comentários

Uma resposta para “Google publica novo mapa da Coreia do Norte com campos de prisioneiros

  1. Shin, estou impressionada com sua experiência. Li o livro e fiquei veementemente assombrada. Presumia que em seu país havia violação de direitos humanos, mas, não poderia imaginar um campo de trabalhos forçados destinado a presos políticos na proporção em que viveu. Fúria, intimidação, hostilidade, violência, crueldade, selvageria, opressão, ameaça, brutalidade, tirania, insensatez. Sua história é incrível! Precisamos ajudar os que ficaram lá. Tenha bom ânimo. Deus te abençoe.

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