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De Tarantino a Iggy Pop: pequenas histórias sobre Jennifer Egan

29 / junho / 2012

Uma adolescente infeliz, criada na São Francisco punk da década de 1970, resolve tirar um ano para si antes de entrar para a faculdade. Está convencida de que não fez ou viveu nada de interessante, é uma alienada que não conhece mundo. Mas o plano de um mochilão pela Europa acaba oferecendo mais do que ataques de pânico, na época interpretados como flashbacks de drogas. Durante essa viagem, Jennifer Egan abandona os projetos que a acompanhavam desde a infância, descarta tornar-se médica ou arqueóloga e decide que será escritora. Não tem nenhuma certeza de seu talento para o ofício, mas está certa de que esse é o único caminho.

Egan escreve seu primeiro livro (nunca publicado) durante os dois anos em que estuda em Cambridge, na Inglaterra. Depois, escolhe viver em Nova York sem família, apoio ou qualquer tipo de suporte. Carrega apenas seu livro, uma espécie de tíquete de entrada para a vida nova. Foi essa jornada solitária que forjou a escritora que hoje vive com a família no Brooklin, publicou cinco livros, colabora constantemente para veículos de prestígio como a New York Times Magazine, e foi eleita em 2011 uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time. Seu último livro, A visita cruel do tempo, considerado por alguns críticos um romance e por outros uma coletânea de contos, despontou como o azarão da corrida pelo Pulitzer em 2011 e acabou desbancado favoritos ao prêmio. Com uma estrutura não convencional, em que os personagens são apresentados em temporalidades e lugares diferentes, o livro recebeu também o National Book Critics Circle Award, o LA Times Book Prize e será adaptado para uma série de TV, produzida pelo canal HBO.

Composto por 13 capítulos, cada um narrado por uma pessoa, A visita cruel do tempo interligada perspectivas e épocas distintas, que vão desde a São Francisco dos anos 1970 até a Nova York de um futuro próximo. As brincadeiras na cronologia da narrativa são comparadas pela própria autora às feitas por Quentin Tarantino em Pulp Fiction, como uma influência inconsiente  do diretor, que também discute constantemente o tempo.

Com um livro difícil de descrever, Jennifer Egan o sintetiza usando algumas de suas referências — seria a mistura entre Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, e a série de TV Família Soprano. The Passenger, uma entre as muitas canções citadas no livro, também é apontada como outra imagem possível. Para a autora, a composição de Iggy Pop consegue representar o sentimento, que ela buscava, o de olhar para alguém ao seu redor e de se perguntar como a vida dessa pessoa poderia ter sido, depois mergulhar nessa história e responder a questão ao leitor. Mas a música também capta o íntimo de seus personagens: outsiders, testemunhas e voyeurs.

Para mais histórias de Egan, assista a entrevista concedida por ela a Jacob Weisberg, editor do Slate Group. Nos vídeos, a autora discute sobre os desafios autoimpostos pela estrutura de A visita cruel do tempo, as supressas durante o processo de criação (e como gosta delas) e a influência de seu trabalho como jornalista em seus textos ficcionais.

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