Há quem o chame de Eros, Kama, Philea ou Ahava, ou simplesmente de Amor. Essa entidade mítica, obstinada e perfeccionista, desempenha simultaneamente os papéis de narrador e de personagem invisível na história real de Caio e Maria Augusta, pais da escritora Adriana Falcão. Apesar de se dizer obcecado por detalhes, o Amor tece sua trama com uma indiferença quase cruel aos sentimentos desencadeados pelos disparos certeiros de suas flechas.

Pelos olhos do Amor, com uma linguagem poética e ao mesmo tempo muito bem-humorada, Adriana revive a intensa paixão de seus pais, reconstituída com a ajuda das cartas trocadas entre eles ao longo dos anos. Caio e Maria Augusta se conhecem no final dos anos 1940, se apaixonam e superam barreiras familiares antes de se casarem.  A felicidade estaria completa com a chegada das filhas, porém cada um vive atormentado por seus próprios demônios. Nem todo o sentimento que compartilham é capaz de impedir que a personalidade exuberante de Maria Augusta se torne, aos poucos, cada vez mais obsessiva e asfixiante, mesmo depois de tratamentos médicos e psiquiátricos. Caio, por sua vez, aprofunda com os anos uma melancolia já existente desde a adolescência e que culmina em tentativas de suicídio nos anos 1970.

Mais do que o relato de uma história dramática, Queria ver você feliz é um depoimento afetuoso de filha, que intercala momentos de profunda alegria e graça com outros tantos de perdas e dor. Como acontece nas melhores famílias.

Foto Adriana Falcão

Adriana Falcão nasceu no Rio de Janeiro em 1960 e foi morar no Recife ainda adolescente. De volta à cidade natal em 1995, ganhou reconhecimento como escritora, cronista e roteirista. Na televisão, colaborou com programas como A grande família e Louco por elas.  No cinema, esteve por trás de sucessos como a adaptação de O auto da compadecida e Se eu fosse você. Queria ver você feliz é sua primeira obra de não ficção.