Querido Peter K.

Querido Peter K.

Antes de tudo, me recuso a chamar você de Kavinsky. Você deve ter achado o máximo quando as pessoas começaram a chamá-lo pelo sobrenome do nada, não é? Quer saber? Kavinsky soa como o nome de um velho com a barba branca e comprida. Quando me beijou, sabia que eu ia me apaixonar por você? Às vezes acho que sim. Definitivamente sim. Sabe por quê? Porque você acha que TODO MUNDO ama você, Peter. É isso que odeio em você. Porque todo mundo ama mesmo você. Inclusive eu. Eu amava. Não mais.
Aqui estão todos os seus piores defeitos:
Você arrota e não pede desculpas. Apenas supõe que todo mundo vai achar fofo. E, se as pessoas não acharem, quem se importa, certo? Errado! Você se importa. Você se importa muito com a opinião alheia.
Você sempre pega o último pedaço de pizza. Nunca pergunta se mais alguém quer. Isso é falta de educação.
Você é tão bom em tudo. Bom demais. Você poderia dar a outros garotos a chance de serem bons, mas nunca dá.
Você me beijou sem motivo. Apesar de eu saber que você gostava da Gen e de você saber que gostava da Gen e de a Gen saber que você gostava dela. Mas você me beijou mesmo assim. Só porque podia. Eu quero saber a verdade: por que você fez isso comigo? Meu primeiro beijo era para ser especial. Já li sobre esse tipo de coisa, sobre como é para ser a sensação: fogos de artifício e faíscas e o som de ondas quebrando nos seus ouvidos. Eu não senti nada disso. Graças a você, foi tão “não especial” quanto um beijo pode ser.
O pior de tudo é que aquele beijo estúpido e sem sentido me fez começar a gostar de você como nunca gostei antes. Eu nunca tinha pensado em você. Gen sempre disse que você é o garoto mais bonito do nosso ano, e eu concordava, porque claro que você é.
Mas eu não via nada de especial em você. Muitas pessoas são bonitas. Isso não as torna interessantes, intrigantes ou legais. Talvez tenha sido por isso que você me beijou. Para ter controle mental sobre mim, para me fazer ver você desse jeito. Funcionou. Seu truquezinho funcionou. A partir daquele dia, eu passei a enxergar você. De perto, seu rosto não era exatamente bonito, mas angelical. Quantos garotos angelicais você já viu? Para mim, só havia um. Você. Acho que tem muito a ver com seus cílios. Você tem cílios bem longos. Injustamente longos.
Apesar de não merecer, tudo bem, vou falar sobre todas as coisas de que gosto (gostava) em você:
Uma vez, na aula de ciências, ninguém queria fazer dupla com Jeffrey Suttleman porque ele tem cecê, e você se ofereceu como se não fosse nada de mais. De repente, todo mundo passou a achar que Jeffrey não era tão ruim.
Você ainda está no coral, apesar de todos os outros garotos terem debandado para a banda ou para a orquestra. Até canta solos. E dança, e não fica com vergonha.
Você foi o último garoto a ficar alto. E agora é o mais alto, mas é como se você merecesse. Além disso, quando você era baixinho, ninguém ligava de você ser baixo, as garotas ainda gostavam de você e os garotos ainda escolhiam você primeiro para o time de basquete na educação física.
Depois que você me beijou, eu gostei de você pelo resto do sétimo ano e pela maior parte do oitavo. Não foi fácil ver você com a Gen, de mãos dadas e se beijando no ônibus. Você deve fazer com que ela se sinta especial. Porque esse é seu talento, certo?
Você é bom em fazer as pessoas se sentirem especiais.
Você sabe como é gostar tanto de alguém que é insuportável saber que essa pessoa nunca vai sentir a mesma coisa por você? Provavelmente não. Pessoas como você não precisam sofrer por esse tipo de coisa. Ficou mais fácil depois que a Gen se mudou e nós deixamos de ser amigas. Pelo menos eu não precisava mais ouvir sobre vocês.
E agora que o ano está quase acabando, sei com certeza que já deixei de gostar de você. Estou imune, Peter. Tenho orgulho de dizer que sou a única garota nesta escola que está imunizada contra os encantos de Peter Kavinsky. Tudo porque tive uma overdose de você no sétimo ano e em boa parte do oitavo. Agora, nunca mais vou precisar me preocupar em ser contaminada de novo. Que alívio! Aposto que, se um dia nos beijássemos de novo, eu pegaria alguma coisa, e não seria amor. Seria herpes!

Lara Jean

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