Para a única garota que já amei

Para a única garota que já amei

Ainda lembro do primeiro presente que me deste. Era um caderno, com a capa encapada com um tecido azul, cor de sonho e céu em dias quentes, com declarações de amor até às margens, escritas a lápis. Desenhos indecifráveis ilustravam tuas teorias, absurdas de lindas, sobre o universo e a certeza de que ele existe por um único propósito: nós. Eu ria e dizia que o mundo nos pertencia, sem saber que o mundo é grande e eu não sou de ninguém; Você sorria, mas os seus olhos de bússola que pareciam sempre apontar para o sul em vez do norte eram incapazes de guiar-me para dentro de ti. Como é que alguém que mancha as páginas de um caderno com tanto sentimento pode ser tão lenta e quase não falar? Esse silêncio me enlouquecia, então eu ia embora e dormia abraçando um travesseiro, fingindo que era você. Você se trancava no quarto e escrevia meu nome nas paredes. Depois riscava meu rosto em suas fotos, mas era incapaz de riscar de sua vida, porque minha pressa equilibrava sua calma e meu fogo fazia seu gelo parar de queimar no peito. Avassaladoras, consumíamos uma a outra, transformando tudo que estava a nossa volta em pó.

Éramos sensacionais e incalculáveis, como tempestades no verão e raios solares no inverno. Você pintava-me e repintava-me, sempre com os mesmos lábios grossos e vermelhos, lábios dos quais roubava beijos quando estavam todos ocupados demais com coisas efêmeras. Talvez se nessa época soubéssemos que a verdadeira efemeridade era a que acelerava nossos corações, compondo melodias de marchinhas de carnaval com o tumtum que aumentava quando nos encostavamos, tivéssemos visto o mundo de outra forma e fosse mais fácil entender que não, ele não era nosso e nem éramos uma da outra.

Somos apenas corpos celestes. Vivemos uma colisão e uma situação inflamável e pragmática, digna de estudos e recordações. Mas então, seguimos nosso rumo, queimando. Tão intensas quanto uma galáxia inteira.

Gayana

Compartilhe sua carta